Uma grave denúncia chegou ao Portal Alex Braga nesta semana, revelando um preocupante cenário de descaso com os pacientes no atual Centro de Saúde Mental do Estado do Amazonas (CESMAM) — antigo Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro — localizado na avenida Desembargador João Machado, no bairro Planalto, zona Centro-Oeste de Manaus.
Segundo imagens e vídeos enviados ao Portal Alex Braga, a unidade – que deveria ser referência no atendimento de urgência e emergência psiquiátrica no estado – enfrenta um verdadeiro colapso na infraestrutura e na prestação de serviços. Nas gravações, feitas no dia 2 de abril, pacientes aparecem amarrados pelos pés e mãos em macas, enquanto acompanhantes dormem em cadeiras plásticas ou diretamente no chão da unidade, cobertos apenas por lençóis.
Apesar de ter sido reinaugurado em 15 de agosto de 2022, na gestão do governador Wilson Lima, com promessa de oferecer um novo conceito em saúde mental, com atendimento humanizado, seguro e com 12 leitos para observação, a realidade atual do CESMAM parece destoar completamente do discurso oficial. À época da reabertura, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) afirmou que o centro operaria 24 horas por dia, todos os dias da semana, com estrutura adequada para acolher os casos mais complexos da saúde mental.
PACIENTES EM SITUAÇÃO COMPLICADA
No entanto, a denúncia aponta para a total ausência de cadeiras apropriadas e utensílios básicos para pacientes e acompanhantes. A situação se agrava com relatos do uso de contenção física em pacientes em surto, sem acompanhamento adequado e sem espaços organizados para um atendimento digno.
Psiquiatra Linda Bottega Vendruscolo
A psiquiatra Linda Bottega Vendruscolo (@lindabottegavendruscolo), consultada pela reportagem, avaliou com preocupação as imagens e a situação relatada pelos denunciantes. “É sempre muito preocupante quando se utiliza contenção física. Historicamente, a psiquiatria já cometeu muitos erros nesse sentido. A contenção ainda é usada em casos extremos, quando o paciente coloca em risco a própria vida ou a de outras pessoas. No entanto, isso deve ser feito com muito critério, e, principalmente, com respaldo de uma equipe capacitada para dar suporte e ressignificar esse momento de crise para o paciente”, afirmou.
Segundo ela, a carência de profissionais qualificados e a sobrecarga no sistema público tornam comum o uso inadequado da contenção como única resposta a surtos.
“O que falta é escuta, acompanhamento terapêutico e uma rede preparada. E infelizmente, na maior parte dos centros psiquiátricos públicos do país, isso ainda não é uma realidade”, completou a especialista.
Reforma milionária e inacabada
CESMAM em reforma
Outro ponto que chama atenção é o estado das obras de reforma do CESMAM. Em outubro de 2023, o Governo do Estado, por meio da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), assinou contrato com a empresa GTEC Construções para a ampliação e reforma da unidade. A obra, que tinha previsão de entrega para abril de 2025, já custou aos cofres públicos mais de R$ 13 milhões, ultrapassando o valor inicial previsto.
De acordo com dados oficiais, apenas 71% da reforma foi concluída, mesmo após um longo período de execução. Imagens registradas em janeiro deste ano mostram um canteiro de obras ainda em fase inicial, com paredes por emboçar e instalações elétricas incompletas. Por enquanto, a única evidência da obra é a placa fixada na frente do prédio.
A equipe de reportagem procurou a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) para esclarecer a situação do CESMAM, os recursos repassados e as providências que estão sendo adotadas. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno.
NOTA
A reportagem procurou a SES-AM para esclarecimentos sobre a atual situação do CESMAM, os recursos recebidos pela unidade e quais providências estão sendo tomadas diante das denúncias e do vídeo dos pacientes amarrados em macas, mas até o fechamento desta matéria, não houve retorno.