Na Comunidade Bom Lugar, zona rural de Ipixuna, no sul do Amazonas, a sobrevivência é um desafio diário. Enquanto as promessas políticas evaporam com o tempo, os moradores enfrentam uma dura realidade marcada pela escassez de direitos básicos. O cenário é de invisibilidade e omissão: água potável é um luxo, energia elétrica regular é instável, transporte escolar é inexistente e o atendimento básico de saúde simplesmente não chega. Diante desse colapso silencioso, o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) decidiu intervir, instaurando um Procedimento Administrativo para fiscalizar a atuação — ou a falta dela — do poder público na região.
O documento, assinado pela promotora de Justiça Maria Cynara Rodrigues Cavalcante, aponta a omissão de diversos órgãos públicos, mesmo após tentativas anteriores de diálogo. Os principais alvos da medida são a Prefeitura de Ipixuna, a Amazonas Energia, a Secretaria Estadual de Educação, a Secretaria Municipal de Saúde e o CRAS local. Como medidas iniciais, o MPAM determinou a reiteração de ofícios, a cobrança de cronogramas e inspeções em obras básicas, como a construção de um poço artesiano e um trapiche para acesso fluvial à comunidade.

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CONTRASTE
O contraste entre a realidade e o discurso político é gritante. Em 2025, a prefeita Paula Augusta (PSDB) assumiu o cargo com 68,91% dos votos válidos, mas não conseguiu entregar avanços concretos. A frustração aumenta quando se analisa o desempenho educacional: segundo o IBGE, o município teve um dos piores IDEBs do estado em 2023 — 3,9 nos anos iniciais e 3,5 nos anos finais do ensino fundamental. Nacionalmente, Ipixuna está entre os mil piores municípios em educação. A economia local também dá sinais de colapso, com um PIB per capita de apenas R$ 6.945,94, o mais baixo do Amazonas. Além disso, 97,32% da receita municipal em 2023 veio de repasses externos, revelando a extrema dependência do município de verbas estaduais e federais.
FARRA COM O DINHEIRO PÚBLICO
Em março deste ano, o Portal do Alex Braga divulgou uma verdadeira farra com o dinheiro público em Ipixuna. A vice-prefeita Rute Monteiro (PL) gastou quase R$ 4 milhões para o fornecimento de materiais de expediente, como alfinetes, apontador de lápis, grampeadores, cartolina e outros mais.
NOTA
O silêncio das instituições públicas reforça a sensação de abandono. Procuradas, a Prefeitura de Ipixuna não respondeu aos questionamentos da reportagem. O espaço segue aberto para esclarecimento.

Já a Amazonas Energia respondeu “que se manifestará nos autos do processo no momento oportuno”.
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