Na manhã desta terça-feira (1º), a Polícia Federal deflagrou a Operação Embarque Fantasma, que visa combater um esquema de desvio de verbas públicas no município de Guajará, no Amazonas. A ação, que também atingiu o município de Cruzeiro do Sul, no Acre, tem como alvos pessoas ligadas ao prefeito de Guajará, Adaildo Melo, e investiga suspeitas de fraudes envolvendo a compra de passagens aéreas, na época em que o atual prefeito ocupava o cargo de vice na cidade.
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Em Guajará, os agentes estiveram na residência da secretária de Finanças, conhecida como Preta, enquanto em Cruzeiro do Sul, a PF cumpriu mandados na casa de um empresário atuante no ramo de vendas de passagens, que mantém negócios tanto no Acre quanto no Amazonas, além da casa do prefeito Adaildo, situada em Santa Rosa. O foco da investigação é o desvio de recursos públicos destinados ao pagamento de passagens aéreas, muitas das quais, segundo as investigações, nunca teriam sido emitidas.
“Entre 2017 e 2021, o município de Guajará teria gastado mais com viagens aéreas do que a própria capital do estado, Manaus, apesar de sua população ser 131 vezes menor. As investigações revelaram que, nesse período, uma única empresa, possivelmente em conluio com outras, venceu todos os processos licitatórios para fornecimento de passagens aéreas no município”, disse em nota a PF.
Além disso, as averiguações apontaram diversas irregularidades nos contratos e na execução dos serviços, como notas fiscais com descrições genéricas dos serviços prestados, ausência de atestado dos funcionários responsáveis e a falta de justificativas técnicas para aditivos contratuais. Também foi constatado que não foram apresentados bilhetes aéreos para comprovar as viagens realizadas.

Durante a operação, foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Guajará/AM e Cruzeiro do Sul/AC, além do sequestro de um veículo. As investigações apontam que os envolvidos poderão responder pelos crimes de peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
A Polícia Federal segue com as apurações e não descarta a possibilidade de novas fases da operação, a fim de desmantelar o esquema e garantir que os responsáveis sejam responsabilizados judicialmente.
Adaildo investigado por compra de votos
Vale lembrar que o prefeito de Guajará, Adaildo da Costa Melo Filho, do União Brasil, está sendo investigado pela Justiça Eleitoral após denúncias feitas por Mardson de Oliveira Gomes, conhecido como Mardão, candidato derrotado nas eleições municipais de 2024. A diferença entre os votos de Mardão e Adaildo foi de apenas 200 votos, e a denúncia originou uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME). Mardão acusa o prefeito de envolvimento em práticas ilegais, como a emissão de documentos falsos e transferências irregulares de títulos eleitorais, com o intuito de garantir sua vitória nas urnas.
A denúncia de Mardão afirma que Rafael Alexandro, sobrinho de Adaildo e chefe da Divisão de Tributos e Fiscalização de Terras Urbanas de Guajará, teria coordenado a emissão de declarações falsas de residência para eleitores de Cruzeiro do Sul, no Acre, que queriam transferir seus títulos eleitorais para o município amazonense. O objetivo, segundo a denúncia, seria aumentar a quantidade de eleitores que votariam no candidato Adaildo, que contava com o apoio do então prefeito da gestão anterior, Ordean Silva.
Nota
O Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga entrou em contato com a o prefeito e a prefeitura de Guajará para questionar sobre a investigação da PF, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.


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