Sábado, 12 Julho

O prefeito de Guajará, Adaildo da Costa Melo Filho, do União Brasil, está sendo investigado pela Justiça Eleitoral após denúncias feitas por Mardson de Oliveira Gomes, conhecido como Mardão, candidato derrotado nas eleições municipais de 2024. A diferença entre os votos de Mardão e Adaildo foi de apenas 200 votos, e a denúncia originou uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME). Mardão acusa o prefeito de envolvimento em práticas ilegais, como a emissão de documentos falsos e transferências irregulares de títulos eleitorais, com o intuito de garantir sua vitória nas urnas.

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A denúncia de Mardão afirma que Rafael Alexandro, sobrinho de Adaildo e chefe da Divisão de Tributos e Fiscalização de Terras Urbanas de Guajará, teria coordenado a emissão de declarações falsas de residência para eleitores de Cruzeiro do Sul, no Acre, que queriam transferir seus títulos eleitorais para o município amazonense. O objetivo, segundo a denúncia, seria aumentar a quantidade de eleitores que votariam no candidato Adaildo, que contava com o apoio do então prefeito da gestão anterior, Ordean Silva.

“Temos tudo sobre essas denúncias, vídeos, fotos, prints e as pessoas envolvidas falando. Uma equipe de reportagem esteve nas comunidades buscando essas pessoas que transferiram os títulos para Guajará, porque as pessoas envolvidas na campanha do Adaildo diziam que eles moravam lá, mas a reportagem não encontrou ninguém morando lá. Na verdade, eles apenas transferiram os títulos para votar”, afirmou Mardão, destacando a consistência das provas coletadas.

Mardão

Uma das provas apresentadas por Mardão envolve o caso de uma mulher, que vamos chamar de Ana, para preservar sua identidade, que reside em Cruzeiro do Sul, mas foi registrada como residente de Guajará, o que lhe permitiu votar nas eleições de 2024. Ana afirmou que recebeu a promessa de benefícios em troca do voto em Adaildo, como a reforma de sua casa e a oferta de um emprego para seu marido. No entanto, segundo a denunciante, nenhuma das promessas foi cumprida, e a política de benefícios nunca se concretizou.

Documento usado pelo denunciante para provar suposta fraude de domicílio eleitoral

Outro morador de Cruzeiro do Sul, que vamos chamar de Nathanael, para preservar sua identidade, também denunciou o suposto esquema. Ele afirmou que foi induzido a transferir seu título eleitoral para Guajará, sendo informado de que receberia benefícios financeiros e emprego na prefeitura local. No entanto, ele alegou que os benefícios prometidos nunca se materializaram, e ainda ficou com dívidas bancárias devido à abertura de conta no município.

Documento usado pelo denunciante para provar suposta fraude de domicílio eleitoral
Dados do IBGE sobre número de moradores na cidade

O aumento desproporcional no número de eleitores registrados em Guajará também chama a atenção. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Guajará possui 13.815 habitantes em 2024, sendo que 4.422 pessoas estavam abaixo da idade mínima para votar. No entanto, o município registrou 12.592 eleitores, correspondendo a mais de 90% da população total, um número incompatível com a realidade demográfica local.

Dados TRE-AM

O advogado de Mardão, Adalto Moura, afirmou que tomou todas as medidas legais possíveis.

“A gente fez a denúncia para todos os órgãos de controle possíveis. A gente entrou com uma ação de Impugnação de Mandando Eletivo para questionar os resultados das eleições, a gente entrou também com uma representação criminal no Ministério Público Eleitoral. A gente entrou com uma notícia de fato na Delegacia de Polícia Federal, porque como é um crime de finalidade eleitoral a policia federal que tem essa competência para investigar. A gente entrou com um pedido de revisão do eleitorado direto no TRE, porque não adianta a gente anular as eleições se o contexto de legalidade permanecer. Por isso a gente pediu ao TRE que fosse feito uma correição na 45ª zona eleitoral, para saber se todas as 1604 pessoas que transferiram seus títulos no ano de 2024 fizeram uma transferência legitima. Essas são as medidas judiciais que tomamos”, explicou.

O Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) poderá, se as denúncias forem confirmadas, cassar o mandato de Adaildo e convocar novas eleições no município. A investigação ainda está em andamento, e os desdobramentos do caso podem causar mudanças significativas na política local.

Nota

O Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga entrou em contato com o TRE-AM para verificar se de fato recebeu a denúncia da suposta fraude eleitoral e foi informada pelo órgão que: “Soubemos da denúncia pela imprensa, já que não foi encaminhada ao TRE-AM”.

Também entramos em contato com a prefeitura da Guajará pedindo um posicionamento do prefeito sobre as denúncias apontas por Mardão, mas até o momento não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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