Quinta-feira, 24 Abril

O Núcleo de Investigação do Portal Alex Braga acompanha com atenção o caso de grande repercussão envolvendo o processo de transição na administração do Hospital 28 de Agosto e do Instituto da Mulher Dona Lindu, que culminou na saída de boa parte da equipe médica das unidades, além de pacientes que foram mandados embora sem receita, encaminhamento ou resumo de alta.

A ação brusca, que está sendo orquestrada pela AGIR Saúde, Organização Social (OS) que assumiu o comando do Complexo Hospitalar da Zona Sul (CHZS) por R$ 2 bilhões, vem sendo denunciada por pacientes que foram mandados embora sem receita, do hospital, além de vários profissionais da saúde, incluindo representantes do Instituto de Traumato-Ortopedia do Amazonas (ITO-AM), ala diretamente afetada pela nova administração.

Uma delas é a doutora Carol Antony, ortopedista que atuava, até alguns dias atrás, como médica prescritora no Hospital 28 de Agosto. Segundo ela, a saúde do Estado do Amazonas está “só ladeira abaixo”, tendo em vista os salários atrasados, a precariedade da estrutura das unidades e a falta de atenção do Governo para com os profissionais e pacientes.

A médica esclarece que vários outros profissionais, incluindo ela, estão sem receber seus respectivos salários desde o mês de agosto deste ano, incluindo um acordo de parcelamento dos dois últimos meses de 2023, feito entre o Governo do Amazonas e os médicos. No entanto, o parcelamento também começou a atrasar, deixando de ser pago desde junho deste ano.

De acordo com Carol, na última reunião realizada com o Estado, os profissionais foram informados que, provavelmente, só iriam receber metade do salário referente ao mês de setembro. Contudo, eles são obrigados a trabalhar mesmo sem receber.

A gente segue tendo que trabalhar mesmo não recebendo, porque o Governo tem um prazo com a gente de 90 dias, ou seja, mesmo que a gente não receba por 90 dias, a gente é obrigado a manter a prestação do nosso serviço. Mesmo os médicos sendo chamados de ‘mercenários’, a gente sempre esteve nas unidades trabalhando normalmente e servindo a saúde pública.

Dra. Carol Antony – Médica e sócia do ITO-AM

Por outro lado, enquanto médicos já atuantes permanecem há três meses sem receber seus salários, a Organização Social AGIR Saúde recebeu R$ 31 milhões adiantados, dos R$ 2 bilhões que tem para receber, de acordo com o contrato.

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Pacientes mandados embora do hospital

O contrato do Estado do Amazonas com a OS Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde (AGIR Saúde) prevê a redução total de leitos do 28 de Agosto em até um terço, o que afeta diretamente os pacientes e até outras unidades de saúde da capital que, mesmo já estando sobrecarregados, deverão receber todos os pacientes dispensados de forma abrupta do 28 de Agosto.

A doutora Carol Antony relata que a ala de ortopedia do hospital conta, atualmente, com mais de 110 pacientes aguardando na fila para realizar procedimentos cirúrgicos, mas, de acordo com o novo contrato, a unidade deve contar com apenas 36 leitos, o que acarretou na dispensa de 74 pacientes que deixaram ou devem deixar o hospital sem receita, encaminhamento, nem resumo de alta.

Pacientes e acompanhantes informaram com exclusividade ao Núcleo de Investigação do PAB que médicos da Organização Social AGIR Saúde estão indo de leito em leito mandando os pacientes embora sem quaisquer esclarecimentos, retirando os registros deles do sistema de forma instantânea.

Em um dos casos, um médico chegou a jogar uma nota de R$ 20,00 (Vinte reais) sobre o leito de uma paciente e a mandou embora.

Relembre a contratação da OS Agir Saúde

Em julho deste ano, o Governo do Estado abriu um processo de licitação para uma Organização Social de Saúde (OSS) assumir a gestão do Complexo Hospitalar Zona Sul (CHZS), que abrange o Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto e o Instituto da Mulher Dona Lindu.

A vencedora do contrato foi a OS AGIR Saúde, que arrematou a licitação e deverá receber R$ 2 bilhões para administrar as unidades. No entanto, o processo foi um tanto controverso, tendo duas interferências do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM), que tentou embargar a contratação, porém sem sucesso.

O contrato foi firmado em novembro deste ano, já com uma nota de empenho de R$ 31 milhões pagos adiantados à OS.

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Nota

O PAB entrou em contato com a Secretaria de Saúde para questionar sobre o cenário atual das unidades, mas até a última atualização desta matéria não fomos respondidos.