Durante uma audiência na Câmara dos Deputados com parlamentares da bancada ruralista, nesta quarta-feira (2), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi alvo de ataques e interrupções enquanto tentava apresentar dados ambientais do país. Marina alertou que o aumento das queimadas tem relação direta com ações criminosas e com a seca extrema, agravada pelas mudanças climáticas.
Marina Silva foi convocada para falar na Comissão de Agricultura sobre os impactos ambientais da construção de uma rodovia em Belém, onde será realizada a COP30 em novembro. Ela também deu esclarecimentos sobre o desmatamento e queimadas, mas outros assuntos geraram discussão.
No momento em que apresentava os dados e fazia um apelo por responsabilidade ambiental, Marina foi interrompida diversas vezes com ofensas, ironias e tentativas de desmoralizá-la. Os ataques vieram, principalmente, de deputados ligados ao agronegócio, que reagiram com hostilidade mesmo diante de informações sérias sobre a crise ambiental.
Marina critica política contra queimadas
A ministra afirmou que o aumento dos incêndios florestais no Brasil em 2024 foi consequência de eventos climáticos extremos que afetaram o mundo todo. Segundo ela, a combinação de seca severa, altas temperaturas e baixa umidade criou um cenário ideal para a propagação do fogo.
Além das condições naturais, Marina alertou que a Polícia Federal triplicou o número de inquéritos sobre incêndios criminosos no país.
“Vivemos uma retroalimentação perversa: clima extremo, ação criminosa e vegetação já pronta para pegar fogo”, afirmou.
O Governo Federal ampliou em 30% o número de brigadistas do Ibama e do ICMBio em relação à gestão anterior. O investimento no combate aos incêndios chegou a R$ 1,5 bilhão, frente a menos de R$ 400 milhões no governo Bolsonaro. “Foi uma verdadeira força-tarefa para evitar que o país entrasse em colapso ambiental”, concluiu a ministra.
Deputado federal critica ministra
Evair de Melo relatou que Marina faz um teatro em defesa da pauta ambiental: “A senhora tem dificuldade com o agronegócio porque a senhora nunca trabalhou, a senhora nunca produziu, não sabe o que é prosperidade construída pelo trabalho. Todo mundo sabe que a senhora tem um discurso alinhado com grupos armados, como as Farc da Colômbia e o Hamas, na Faixa de Gaza.” E voltou a associar a ministra ao câncer, repetindo declaração feita anteriormente.

A ministra Marina Silva rebateu: “Eu fico vendo as pessoas dizendo aqui teorias de condicionamento operante ou de adestramento de forma ofensiva e desrespeitosa, mas quem repete mentiras não sou eu. E também chegou a dizer que o desmatamento caiu, e é só fazer a imagem da análise do satélite e verificar polígo por polígo, chamar uma auditoria independente e se ater aos fatos e não às versões.”
Desmatamento vira campo de batalha entre ambientalistas e ruralistas
O Presidente e deputado da Comissão, Rodolfo Nogueira (PL-MS) relatou que, durante a gestão de Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento na Amazônia teria aumentado 482%. Segundo ele, As queimadas atingiram níveis recordes, e a resposta tem sido o silêncio ou a burocracia, enquanto o mato está pegando fogo e a ministra Marina Silva não sabe de nada, e realmente terceiriza a sua responsabilidade para São Pedro”, criticou.

Ele também afirmou que o Ibama teria liberado desmatamento para a construção de uma estrada que levará à COP30. “É vergonhoso. Um evento climático sendo viabilizado com desmatamento na Amazônia”, disparou.
A ministra contestou os dados e criticou a forma como os parlamentares distribuem as emendas para o meio ambiente:
“As pessoas falam em proteger a Amazônia. No entanto, estão reclamando do trabalho que o Ibama faz de retirada de gado de forma criminosa dentro de unidades de conservação de terras indígenas e das florestas nacionais. ”
Foram mais de sete horas de debate, e para o deputado Guilherme Boulos, do PSOL de São Paulo, a convocação da ministra Marina Silva foi um erro.
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Em maio, a ministra enfrentou uma situação semelhante e deixou uma audiência na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado após ser alvo de ataques do senador Plínio Valério (PSDB-AM). Durante a sessão, o parlamentar pediu a palavra sob o pretexto de fazer uma pergunta, mas acabou fazendo declarações ofensivas, chegando a dizer que, na condição de ministra, Marina não merecia respeito.