Sábado, 20 Setembro

A população amazonense tem enfrentado dificuldades para entrar em contato com a Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) por meio dos canais oficiais. A reportagem do Portal Alex Braga realizou dezenas de ligações para os canais e ramais disponíveis no site oficial da Casa Legislativa, sem sucesso. Nenhuma chamada foi atendida ou funcionou, mostrando que além da falha na comunicação, a entidade tem violado um direito básico garantido pela Constituição Federal, o acesso à informação pública.  

De acordo com a Lei nº 12.527, de 18 de novembro 2011, também conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, pode receber informações públicas dos órgãos e entidades. A Lei vale para os três Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, inclusive os Tribunais de Contas, Ministério Público e entidades privadas sem fins lucrativos. 

O artigo 3º da LAI assegura o direito a “utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação”. No artigo 7º, a legislação ressalta que o acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre outros, os direitos de obter “a orientação sobre os procedimentos para a consecução de acesso, bem como sobre o local onde poderá ser encontrada ou obtida a informação almejada”. 

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Quadro de diretorias administrativas da Aleam. A reportagem tentou contato através de todos os telefones disponíveis e nenhum foi atendido.

A Constituição Federal também reafirma que, em seu artigo 5º, inciso XXXIII, que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral”. Além disso, a Lei nº 13.460/2017, que regula os direitos do usuário dos serviços públicos, determina que o cidadão tem direito a “obtenção e utilização dos serviços com qualidade e em tempo razoável”. 

Na prática, no entanto, os canais da Aleam não estão cumprindo com esse dever. No site oficial da Casa Legislativa, constam apenas telefones fixos e e-mails das diretorias, contatos esses que não funcionam. O teste feito pela reportagem revela que um cidadão que deseje exercer sua cidadania e o direito à informação por meio desses canais têm esse direito negado, simplesmente porque eles não funcionam.  

Central telefônica disponível no site oficial da Aleam. As tentativas de contato para esses números não funcionaram.

População no vácuo

Somente para um ramal, a equipe de reportagem do Portal Alex Braga realizou 11 tentativas de ligação, todas sem sucesso. Na tentativa de redirecionar o contato para o setor desejado, a reportagem ligou para todos os ramais disponíveis no site da Aleam, mas nenhum foi atendido ou apresentou funcionamento adequado.

Nossa equipe também teve acesso a um número de WhatsApp que não consta no site oficial. No entanto, o número só permite o envio de mensagens e não aceita ligações — mais um indicativo de que o canal de comunicação não é acessível ao público com diferentes necessidades. O site também não oferece alternativas ágeis de contato direto, como chat online ou atendimento via WhatsApp.

A ouvidoria, por sua vez, ao ser acessada, redireciona automaticamente para o Fala.BR — a plataforma integrada de ouvidoria e acesso à informação da Controladoria-Geral da União (CGU). Outros canais exigem o preenchimento de formulários e têm prazos para resposta.

As tentativas de contato com os canais oficiais da Aleam. Para um dos ramais, foram 11 ligações e outro sete, todos em horário de funcionamento da Casa Legislativa.

Uma das piores transparências do Brasil

Uma reportagem publicada em julho do ano passado, o Portal Alex Braga revelou que a Aleam amarga um péssimo exemplo de gestão pública e interação com a sociedade. Descumprindo o que manda a Lei, o presidente da Casa, deputado Roberto Cidade (UB), não disponibiliza dados referentes aos gastos públicos e coloca a Casa como a 22º pior do Brasil no aspecto transparência, segundo o ranking divulgado pelo Índice de Transparência e Governança Pública (ITGP).

Outra reportagem publicada em dezembro do mesmo ano pelo Portal Alex Braga, mostra que a Aleam alcançou a 6ª colocação como pior transparência do Brasil. O ITGP é um levantamento realizado pela a Transparência Internacional, e mapeia os dados dando notas de 0 a 100.

Barreiras

O cidadão amazonense que busca informações simples, como dúvidas sobre sessões, pautas, leis, projetos ou gabinetes parlamentares, e que poderiam ser sanadas por uma ligação, encontra barreiras nos canais oficiais.

Vale lembrar que entre os objetivos da LAI estão a prevenção e o combate à corrupção, o fortalecimento da transparência, o controle social sobre a atuação do governo e a promoção da participação cidadã na gestão pública. Mas como os cidadãos amazonenses poderão participar ativamente da gestão da Casa Legislativa se os canais de comunicação não funcionam?

Tentativa de contato com o diretor-geral, Wander Araújo Motta. O mesmo aconteceu com as tentativas de contato com os outros servidores do quadro administrativo.

Enquanto isso, a população amazonense continua sem acesso facilitado à Casa Legislativa, uma estrutura que deveria ser pública, acessível e transparente, mas que se mostra distante e silenciosa. 

A reportagem entrou em contato com a Aleam e questionou o motivo pelos quais os canais de comunicação oficiais da Casa Legislativa não funcionarem, e aguarda resposta. Até a publicação desta matéria, não houve retorno.