Pais e alunos da Escola Estadual de Tempo Integral (EETI) Danilo de Mattos Areosa, localizada no Centro de Novo Airão, estão indignados com a péssima qualidade da merenda escolar servida aos estudantes. Segundo relatos dos alunos, a direção da escola informou que a merenda fornecida pela Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc), na gestão do governador Wilson Lima e da secretária Arlete Ferreira Mendonça, consiste nas sobras do ano de 2024.
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Dados do Portal da Transparência do Governo do Amazonas mostram que, em 2023, a Seduc firmou um contrato de quase R$ 36 milhões com a empresa Pajura Comércio Atacadista de Produtos Alimentícios Ltda. para fornecer almoço e lanche aos Centros de Educação de Tempo Integral (CETIs) e Escolas de Tempo Integral (ETIs) do interior do estado, incluindo Novo Airão. O valor do contrato foi dividido entre dois lotes (LOTE III: R$17.365.396,00 LOTE IV: R$18.619.928,00), somando R$ 35.985.324,00, o que levanta a pergunta: onde está o dinheiro destinado à alimentação escolar? Como é possível que a escola tenha acesso a recursos tão altos, mas os alunos recebam uma alimentação precária e de qualidade questionável?


Pais e alunos revoltados
Em um vídeo enviado ao Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga (PAB), é possível ver o cardápio de baixa qualidade oferecido: um simples copo de suco e umas bolachas. A denúncia revela uma situação alarmante, que tem deixado tanto os alunos quanto seus responsáveis em um estado de revolta.
De acordo com uma aluna, o diretor explicou que a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc) começaria a enviar a merenda escolar apenas nesta semana, mas, enquanto isso, a escola seria responsável apenas por oferecer um lanche à tarde, com o cardápio elaborado por uma nutricionista. O diretor ainda afirmou que, se a Seduc enviar alimentos em quantidade suficiente, seria possível oferecer “dois dias de proteína”.
“O diretor disse que ele queria oferecer uma janta, mas durante o dia quem faz a comida é uma empresa privada, e que eles fornecem só a merenda à tarde.”, disse uma aluna.

MERENDA: MINGAU COM TAPIOCA
Essa situação, de acordo com os pais, não é nova. Desde janeiro deste ano, alunos do ensino integral têm recebido, como merenda, apenas mingau de tapioca ou um suco que, em muitos casos, parece estar estragado. Já os alunos do turno da noite, especialmente os do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), têm enfrentado uma realidade ainda mais cruel: na maioria das vezes, a merenda é composta apenas por um copo de suco de 180 ml e, em raras ocasiões, algumas bolachas. “O suco muitas vezes nem parece suco, está aguado e sem gosto. É uma situação de extrema negligência”, relatou um dos pais, que pediu para não ser identificado.
Além disso, as condições se tornam ainda mais graves quando comparadas à realidade de outras escolas estaduais da cidade. Ao contrário da EETI Danilo de Mattos Areosa, escolas como a Escola Estadual Joaquim de Paula e a Escola Estadual Balbina Mestrinho garantem merenda todos os dias aos seus alunos, criando um contraste gritante entre as instituições de ensino. E a situação, como afirmam os pais, não é de agora: no ano passado, a escola chegou a servir laranjas estragadas como parte da alimentação escolar.

A madrasta de um aluno, que também pediu anonimato, revelou que até mesmo professores da instituição orientaram os responsáveis a realizar uma manifestação para exigir providências das autoridades. “É inadmissível que alunos em tempo integral, que estão na escola por mais tempo, não recebam uma alimentação adequada. O pior é que não é permitido levar comida de casa, e o próprio diretor disse que, se pegarem os alunos com comida de casa, ele vai pegar e comer”, contou a madrasta.
A denúncia é ainda mais grave quando ouvida de uma estudante do EJA, que relatou que, desde o início do ano, as queixas à direção da escola e à Seduc não resultaram em nenhuma mudança significativa. “A merenda é sempre a mesma: suco com bolacha, mingau de tapioca ou iogurte congelado. Em alguns raros dias, servem canja sem sabor. À noite, o suco parece mais água do que qualquer outra coisa. E ainda tem a questão das ameaças: vários alunos foram intimidados por filmar a merenda e denunciar”, afirmou a estudante, também em anonimato.
Nota
O Portal Alex Braga entrou em contato com a Seduc para obter um posicionamento sobre a denúncia, mas, até o fechamento desta matéria, não houve resposta. O espaço segue aberto para eventuais esclarecimentos.

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