Quinta-feira, 24 Abril

Na manhã desta segunda-feira (24), a Polícia Federal (PF) iniciou buscas no gabinete do desembargador Elci Simões, localizado na sede do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), em Manaus. A operação ocorre após o afastamento cautelar de Simões e do juiz Jean Pimentel, decidido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na última sexta-feira (21).

Ambos são investigados por supostas irregularidades relacionadas a documentos que possibilitaram a retirada de quase R$ 150 milhões da Eletrobras (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.).

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De acordo com o CNJ, o afastamento foi motivado por uma denúncia formal que aponta possíveis fraudes cometidas pelos magistrados. A Eletrobras alegou que os dois poderiam ter autorizado documentos fraudulentos que resultaram no desvio da quantia mencionada. Em razão disso, o CNJ determinou que Simões e Pimentel ficassem proibidos de acessar seus gabinetes.

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A sede do gabinete de Elci Simões, que foi interditada pelo CNJ desde o afastamento, continua sob vigilância. Imagens divulgadas na sexta-feira (21) mostraram faixas e um aviso impresso na porta do escritório, informando sobre a interdição.

Polícia Federal faz buscas em gabinete no TJAM

Sobre o afastamento do CNJ

O CNJ justificou a decisão de afastamento com base na celeridade excessiva com que o processo envolvendo os documentos foi conduzido, algo que não se adequaria ao volume de trabalho da Vara Única. O ministro Campbell Marques, responsável pela decisão, destacou que o juiz Pimentel agiu sem a cautela necessária ao analisar os documentos e os beneficiários dos valores, o que coloca em risco a integridade da justiça.

“Esse comportamento pode causar danos à imagem do Poder Judiciário do Amazonas, pois sugere possíveis violações da imparcialidade e igualdade, princípios que devem ser garantidos aos julgadores”, afirmou o ministro. Diante disso, a decisão de afastar os magistrados foi considerada essencial.

Além do afastamento, a Corregedoria Nacional determinou o bloqueio dos acessos de Simões e Pimentel aos sistemas do TJAM. Os equipamentos de trabalho dos dois magistrados também foram lacrados para perícia, a fim de colher dados que ajudem na continuidade das investigações.

A reclamação disciplinar contra os envolvidos tramita em sigilo, e ambos os magistrados têm até cinco dias para se manifestarem.

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NOTA JUIZ JEAN PIMENTEL

Diante das notícias veiculadas, eu, Jean Carlos Pimentel dos Santos, Juiz de Direito designado no final de dezembro de 2024, para a Comarca de Presidente Figueiredo, venho a público esclarecer alguns pontos importantes.

Encontro-me afastado de minhas funções pelo CNJ após ter atuado em conformidade com determinações provenientes de instância superior. Esta situação nos convida a uma reflexão sobre os limites e responsabilidades inerentes à atuação da magistratura brasileira.

Quanto ao alegado prejuízo de R$ 150 milhões à Eletrobras, cabe destacar:

  1. A totalidade dos valores já retornou à conta judicial. Em juízo de retratação, determinei a devolução nas primeiras horas da manhã seguinte, anteriormente a qualquer manifestação oficial de instâncias superiores.
  2. A própria Eletrobras, em seu balanço patrimonial de 2020, período anterior ao ajuizamento da demanda, já reconhecia formalmente sua responsabilidade pelos pagamentos do empréstimo compulsório:
  • R$ 2.665 milhões reservados para processos judiciais
  • R$ 345 milhões para implantação de ações
  • R$ 11.458.690 milhões previstos em passivos possíveis
  • Planejamento de emissão de 22.358.186 novas ações específicas para estas obrigações

É relevante observar que a empresa somente se manifestou no processo após o bloqueio judicial realizado em 2022, período em que eu sequer era o magistrado do caso, tendo perdido os prazos processuais e permanecido silente frente à citação regular. Vale ressaltar que os títulos em questão passaram por rigorosa perícia, atestando sua autenticidade e validade.

Atualmente, a Eletrobras busca utilizar o CNJ para questionar no âmbito administrativo decisões já transitadas em julgado, inclusive sobre a competência estadual – matéria previamente apreciada pelo TRF1.

Reafirmo meu compromisso com a transparência e a integridade da atuação judicial. Os detalhes completos dos fatos e procedimentos adotados estão devidamente documentados e poderão vir a público caso as circunstâncias assim demandem.

Jean Carlos Pimentel dos Santos
Juiz de Direito