Quinta-feira, 11 Setembro

Zacarias Silva, de 53 anos, é mais um, entre tantos pacientes que estão sendo prejudicados pela falta de organização e comprometimento com a saúde pública. Ele enfrentou uma infecção no ouvido que se transformou em um grave abscesso cerebral. Após uma cirurgia de emergência realizada no Hospital João Lúcio, o paciente venceu a primeira batalha contra o problema, mas agora trava uma nova luta, desta vez, pela obtenção do antibiótico Linezolida, essencial para sua recuperação pós-cirúrgica.

A denúncia chegou ao Portal Alex Braga pela esposa de Zacarias, Marivane Alfon. Ela contou à nossa equipe de jornalismo que o medicamento está em falta no hospital desde que a administração da Central de Medicamentos do Amazonas (CEMA) não fez a reposição necessária. Segundo ela, a medicação é crucial para que seu marido possa seguir com a recuperação e voltar para casa.

“Meu marido só pode voltar para casa após fazer o uso desse antibiótico, pois ele é quem vai ajudar na recuperação pós-cirúrgica do meu esposo. Aqui no hospital já falei com todos que eu podia, ouvidoria e direção, não sei mais a quem recorrer”, desabafou Marivane.

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Longa agonia

Zacarias foi internado no Hospital João Lúcio no dia 20 de dezembro de 2024, com dores intensas na nuca e na cabeça. Após exames, os médicos diagnosticaram um abscesso cerebral, e no dia 25 de dezembro Zacarias passou por uma cirurgia de remoção do pus. Durante o pós-operatório, ele começou a tomar o antibiótico Vancomicina, mas sofreu uma grave reação alérgica. Por conta disso, o tratamento foi trocado para Linezolida, que, poucas semanas depois, entrou em falta.

Marivane relatou que, após a interrupção do tratamento com Linezolida, o hospital conseguiu empréstimos temporários de outros hospitais, mas a medicação voltou a faltar, comprometendo o tratamento do paciente.

 “Após 23 dias tomando a Vancomicina, ele teve uma reação alérgica e quase morreu. O medicamento foi suspenso e substituído pelo Linezolida, mas com poucos dias de uso o remédio entrou em falta, interrompendo o tratamento do meu marido. Fui na ouvidoria do hospital e eles conseguiram emprestar esse remédio de outro hospital. Mas após 40 dias de tratamento, o remédio voltou a faltar e dessa vez o hospital disse que está em falta”, contou Marivane, explicando a situação desesperadora que está vivendo.

Segundo Marivana, após o procedimento cirúrgico de remoção do abscesso, os médicos estimaram que Zacarias ficaria internado por 50 dias para uma recuperação total. No entanto, devido à falta do antibiótico, ele já ultrapassa os 64 dias de internação e já precisou realizar uma drenagem para remover os resquícios do abscesso. “Acredito que se ele estivesse tomando o remédio corretamente, ele já estaria melhor”, disse ela.

Até o momento, o hospital não forneceu um prazo para o reabastecimento do medicamento e, em visitas recentes, Marivane não obteve respostas satisfatórias da ouvidoria. A falta de Linezolida está prejudicando não só a recuperação de Zacarias, mas a de outros pacientes que dependem da medicação para vencer infecções graves.

A escassez de remédios, como antibióticos, analgésicos e medicamentos para o tratamento de doenças crônicas, tem afetado diretamente a qualidade do atendimento. Pacientes relatam que, em muitas unidades de saúde, a falta de medicamentos já se tornou uma rotina. Em algumas situações, a orientação é que as pessoas comprem os medicamentos por conta própria, o que representa um grande custo financeiro para quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS).

E, enquanto isso, as críticas à gestão de Wilson Lima continuam a crescer. O governo, que já foi alvo de diversas denúncias de má administração e falhas no setor de saúde, não tem conseguido solucionar esse problema grave. Para muitos, a sensação é de abandono.

O outro lado

O Núcleo Investigativo do Portal Alex Braga entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Ses) pedindo informações sobre a falta do antibiótico e qual o prazo para o reabastecimento. Mas até a publicação desta reportagem não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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