O prefeito de Lábrea, Gerlando Lopes (PL), assinou um contrato de mais de R$ 3,2 milhões com empresa do Ceará, para comprar ultrassom portátil à Secretaria de Saúde do município. Mas sem revelar quais unidades de saúde serão atendidas e nem a quantidade de aparelhos requisitados pela Prefeitura, o contrato deixa uma série de questionamentos quanto a critérios do uso do dinheiro público.
No documento de contrato, publicado no Diário Oficial dos Municípios, o prefeito deixa claro que não fez licitação, ou seja, escolheu quem ele mesmo quis. Porém, nossa equipe de reportagem encontrou o mesmo aparelho por preços muito menores.
Mesmo não apresentando o valor unitário no contrato, o Portal Alex Braga buscou contato com a empresa contratada. A Clinical Tools foi questionada sobre qual o valor da unidade de ultrassom portátil. Segundo a própria empresa, eles vendem o aparelho por R$ 78,9 mil a unidade. Ou seja, com o valor de R$ 3,2 milhões, daria para comprar cerca de 42 aparelhos.
Veja o contato pela nossa reportagem com a empresa:

Encontramos o mesmo aparelho por valores menores
Em uma pesquisa feita em outras lojas, o valor de mercado por unidade do aparelho custa em torno de R$ 15 mil a R$ 17 mil. Contudo, no documento de contrato não há informações sobre a quantidade de ultrassons portáteis serão comprados que justifiquem o valor milionário do contrato.
Veja os valores de outras lojas:


De acordo com o documento de contratação, o objeto é descrito como “a aquisição de ultrassom portátil para atender as necessidades da Secretaria Municipal de Saúde”, sem apresentar nenhuma outra informação, sobre a quantidade e assim como não apresenta o preço unitário que os ultrassons portáteis custarão aos cofres públicos.
Veja na publicação do extrato de contrato:

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Empresa contratada
A empresa escolhida de forma direta, é a Clinicaltools Comércio e Importação de Máquinas e Equipamentos Médicos Ltda, inscrita no CNPJ nº 44.704.903/0001-29. A mesma funciona desde 2021, sediada na cidade de Fortaleza, no Ceará.
Segundo suas informações cadastrais, ela apresenta como atividade principal os serviços de “intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral”. Assim como outras atividades secundárias de atacadista de materiais médicos, produtos odontológicos, atacadista de máquinas e equipamentos para uso comercial. E ainda, com suprimentos de informática e equipamentos de telefonia.
Veja a lista de atividades da empresa:

Ao acessar as redes sociais da empresa ela apresenta a venda dos aparelhos de ultrassom portátil, o qual apresenta um objeto mais moderno e menor.
Veja o perfil da empresa nas redes sociais:

A empresa com sede em Fortaleza, tem como responsáveis, os três empresários identificados como: Geraldo da Consolação Pereira, Roger Di Roy Bellido Castro e Caik Luan Carvalho Martins. Assim como, um capital social declarado de R$ 70,8 milhões.
Veja o quadro de sócios e administradores da empresa:

Falta de insumos, atrasos de salários e greve de médicos na Saúde de Lábrea
No ano passado, o Ministério Público do Amazonas (MPAM), visitou o Hospital Regional do município, em meio a greve e a situação crítica na falta de medicamentos, insumos na rede pública de saúde.
Na vista in loco feita pelo MPAM, foi constata da falta dos insumos e de medicamentos básicos. Até mesmo na farmácia do hospital, não havia a quantidade devida de remédios e insumos.

Mesmo solicitando o reabastecimento dos medicamentos, o funcionário do local afirmou que “a organização nunca atende os pedidos de medicamentos em sua totalidade, o que ocasiona o estoque zero ou crítico”, disse ele ao promotor de Justiça Elison Nascimento da Silva, quando visitou o local.
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Ele também foi informado que na maioria das vezes, o município depende de suprimentos vindos de outros municípios ou até do Estado de Rondônia”. Mesmo nos procedimentos mais simples, quem compra os medicamentos são os próprios pacientes.
Médicos revoltados!
Além disso, os próprios médicos estavam de greve na frente do hospital para reivindicarem a falta de pagamento dos salários que estavam atrasados há mais de 3 meses e falta de condições necessárias para o exercício profissional na cidade.
Veja imagens da greve em 2024:

Diante dessa precariedade, a situação levanta questionamentos sobre o alto gasto na compra com de apenas uma espécie de aparelho médico, se a rede pública de saúde vive um caos no município.
Resposta
Com esses questionamentos, a equipe de jornalismo do Portal Alex Braga, tentou contato com a Prefeitura de Lábrea, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) e empresa escolhida no contrato, para pedir mais esclarecimentos e um posicionamento por parte dos envolvidos. Contudo, até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta. O espaço segue aberto para mais esclarecimentos.


