Segunda-feira, 22 Setembro

Com a eleição de 2026 batendo na porta e sacudindo os bastidores da política, os partidos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do atual presidente Lula (PT), vivem uma cena inusitada no Amazonas: rachados internamente, tenta, manter os eleitores fiéis á base de ideologias que não são levadas em conta na hora das disputas internar por poder e controle das siglas.

O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Liberal (PL) vivem momentos delicados no estado, expondo fragilidades que vão além da disputa eleitoral.  Faltando um ano para as eleições, nossa equipe de jornalismo ouviu o professor Helson Ribeiro sobre as rachaduras que expõe a fragilidade dos “ninhos” que representam, ao menos na teoria, a esquerda e a direita no AM.

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De um lado, os petistas Zé Ricardo e Sinésio Campos travam uma queda de braço que se arrasta há anos e que ganhou novo capítulo no dia 11 deste mês. O presidente nacional do partido, Edinho Silva, foi flagrado em vídeo repreendendo os dois parlamentares durante uma reunião. O momento chamou atenção por se mostrar como um grande “puxão de orelha” aos petistas. 

Em tom firme, ele disse que “o plano de eleição vai ser construído com os dois e quem não entender isso, a porta de saída é o futuro”. Edinho chegou a ameaçar uma intervenção no diretório estadual, caso o racha continue.

“Ou vocês entendem o que é composição partidária, ou vai ter intervenção aqui. Nem Sinésio ganha e nem José Ricardo ganha”, disse o presidente nacional do PT. 

Momento em que Edinho fala que a “a porta de saída é o futuro” caso o racha continue entre os petistas. Foto: Reprodução

No campo oposto, o presidente estadual do PL, Alfredo Nascimento, foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TER) a devolver o valor de R$ 125 mil ao Tesouro Nacional por irregularidades na prestação de contas de sua candidatura a deputado federal em 2022. A decisão foi publicada no Diário de Justiça Eletrônico no dia 12 deste mês. Alfredo tem até o próximo dia 27 para quitar a dívida, sob pena de multa adicional de 10% e cobrança de honorários advocatícios no mesmo percentual. 

Partidos sofrem desgastes 

Não é a primeira vez que os partidos sofrem desgastes judiciais no Amazonas. Em abril deste ano, o diretório estadual do PT, comandado por Sinésio Campos, também teve contas reprovadas pelo TRE, referentes ao exercício de 2019, resultando em multa de R$ 60,9 mil. 

Para o cientista político, Helson Ribeiro, o atual cenário político no Amazonas reflete um desgaste crescente entre os eleitores e os partidos. Ribeiro explica que esse cenário é agravado pelo modelo de democracia representativa, que “gera um desgaste imenso” e tem levado parte significativa da população a se sentir “desencantada com a democracia, com os políticos que estão aí e com os que se apresentam também”. 

“Os eleitores não têm um pensamento idêntico, né? São muitos, dependendo da faixa etária, do nível intelectual, de interesses. Então são muitas as opiniões que divergem às vezes e convergem em outros pontos… E aí algumas atitudes como ser chamado atenção pelo presidente nacional do partido ou ser multado pelo TRE aumentam ainda mais esse descrédito”, afirma o especialista. 

Cientista político Helso Ribeiro avalia cenário político no Amazonas. Foto: Reprodução/Internet

Apesar das polêmicas, PT e PL mantêm base sólida de apoio 

No entanto, Ribeiro observa que líderes políticos consolidados ainda mantêm base sólida de apoio, independentemente das polêmicas. Para o cientista político, esse fenômeno se explica pela fidelidade de determinados nichos de eleitores. Muitos cidadãos, segundo ele, acabam priorizando questões do dia a dia, como emprego e sustento, e não acompanham de perto disputas internas ou punições formais. 

“Esses parlamentares têm um nicho de eleitores que são fiéis a ele e eles estão um pouco se importando… esse nicho fechado acaba absorvendo algumas críticas. [Porém], o eleitor por vezes tem outras preocupações, correndo atrás do emprego, correndo atrás da vida, e nem se toca quem foi multado pelo TRE ou quem recebeu puxão de orelha do líder de Brasília que está distante dele”, completou. 

Siglas menores são coadjuvantes 

Questionado sobre a possibilidade de que essas fragilidades de partidos maiores acabem abrindo espaço para o crescimento de partidos menores no Amazonas, Ribeiro acredita que, na verdade, o cenário real é que siglas menores acabam orbitando em torno de figuras de projeção. 

“Siglas menores ficam meio que satélites, né? Satélites que gravitam em torno de grandes partidos. Se elas não tiverem um candidato forte pra presidência da República, elas tendem a ficar sempre como coadjuvante”, avaliou. 

Ribeiro citou Lula como exemplo na federação liderada pelo PT e, no caso do PL, destacou a força do ex-presidente Bolsonaro. Para Ribeiro, tanto Lula quanto Bolsonaro catapultam seus partidos, ainda que mudem de legenda. 

“O Bolsonaro mudou de partido umas nove vezes, e ele tornou o PSL (um partido nanico) um partido grande e por onde passou ele elevou. Essas pequenas siglas são sempre reféns de uma figura que arraste multidões, senão continuam como satélites”, avaliou. 

Enquanto o PT-AM perde tempo com brigas internas e compromete sua capacidade de articulação, o PL-AM expõe fragilidades éticas e administrativas com a reprovação de contas. No final, a falta de sintonia do PT e os problemas judiciais do PL colocam em xeque a credibilidade das duas legendas. Em vez de disputarem quem representa o projeto mais sólido para o Amazonas, os partidos acabam disputando quem tem mais problemas para resolver. 

A reportagem entrou em contato com o presidente do PL, Alfredo Nascimento, e com o presidente do PT, Sinésio Campos, através de suas assessorias, e aguarda posicionamento sobre os fatos apresentados.