Quinta-feira, 27 Novembro

Depois de um ano inteiro de luta pela vida, marcada por sucessivas cirurgias, sofrimento e abandono institucional, a pequena Lis Vitória morreu nesta segunda-feira (24), no Hospital e Pronto-Socorro da Criança da Zona Sul, em Manaus. O Portal Alex Braga acompanhou durante meses o drama da menina e de sua mãe, e relata agora o desfecho trágico de um caso que expõe com gravidade o colapso da Saúde infantil no Amazonas.

Uma morte anunciada

Lis Vitória, que chegou a Manaus com apenas 1 ano e 2 meses, vinda de Carauari, enfrentava uma condição rara no intestino, um megacólon que acomete todo o sistema intestinal, impedindo a absorção adequada de nutrientes. A criança vivia com apenas 6,2 kg e dependia de nutrição parenteral para sobreviver. Ao longo de sua internação, passou por oito cirurgias, sem diagnóstico fechado e sem melhora.

Mesmo com recomendação médica para cirurgia de Reabilitação Intestinal em São Paulo, procedimento inexistente em Manaus, a transferência via TFD (Tratamento Fora do Domicílio) nunca ocorreu. Nem mesmo uma ordem judicial foi suficiente para fazer o Estado agir. Enquanto a burocracia se arrastava, Lis permaneceu internada, vulnerável, até contrair uma infecção dentro da própria unidade hospitalar, agravando seu estado até a morte.

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A agonia do último dia no hospital

Na segunda-feira, quando sua condição se agravou, Lis Vitória estava com as vísceras expostas, aguardando uma cirurgia de urgência. O pedido de sala cirúrgica havia sido feito cedo pela manhã. Ainda assim, a equipe médica só conseguiu operá-la às 17h, após horas de espera que podem ter custado sua vida.

Profissionais relataram por mensagens de aplicativo que o atraso ocorre porque o hospital dispõe, na prática, de apenas uma sala operante, já que o carrinho de anestesia da sala B está quebrado há anos. O equipamento nunca foi consertado. A falta de materiais, medicamentos e equipamentos adequados é rotina, e impacta diretamente a sobrevivência das crianças internadas.

NOTA

O Núcleo de Reportagem Investigativa entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Ses-AM) para falar sobre o caso, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas.

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