Quarta-feira, 1 Outubro

Essa é a segunda reportagem de uma série de matérias especiais do Portal Alex Braga que expõem denúncias graves envolvendo a gestão do prefeito Frank Sobreira Barros (MDB), em Boca do Acre. Um dia após revelarmos o colapso da saúde pública no município, com falta de oxigênio, surto de COVID-19, ausência de insumos básicos e até infestação de ratos no hospital, uma nova denúncia chega à nossa redação. Desta vez, o foco é o abandono das ruas da cidade.

Moradores do bairro Platô do Piquiá, revoltados com a situação da Avenida 21, decidiram protestar de forma inusitada: plantaram uma bananeira em um dos buracos da via, localizada justamente em frente à Secretaria Municipal de Obras. A ação simbólica escancara o sentimento de indignação da população frente à falta de infraestrutura, que, segundo os relatos, atinge diversos bairros de Boca do Acre.

Lama, buraco, crateras…

Avenida 21, no Platô do Piquiá

Quem percorre a Avenida 21 percebe o que a prefeitura insiste em ignorar: a via está praticamente intransitável. Os buracos se acumulam por mais de um quilômetro, dificultando o tráfego de veículos e colocando pedestres em risco. A bananeira fincada no asfalto é uma provocação direta ao poder público, que convive com o caos de braços cruzados.

“Fizemos protestos, abaixo-assinados, pedimos audiência… Nada. Então plantamos a bananeira para ver se assim somos ouvidos”, disse uma moradora que preferiu não se identificar por medo de retaliação.

A via não é qualquer uma. Nela estão localizadas a Secretaria Municipal de Obras e a residência da ex-vice-prefeita Luciana Melo. Mesmo assim, o abandono impera. Em vez de asfalto, o que há é barro, poeira e crateras.

Nesta segunda-feira (29), o Instagram do Jornal Opinião de Boca do Acre publicou um vídeo onde condutores cobram medidas para a avenida 21, que mais parece tábua de pirulito de tantos buracos

Pavimentação: contrato rescindido e verba insuficiente

Em meio às denúncias, a prefeitura oficializou recentemente a rescisão consensual do contrato nº 052/2024 com a empresa FL Serviços de Engenharia Ltda., responsável pela execução das obras de pavimentação das ruas da cidade. A decisão foi publicada no Diário Oficial e assinada pelo prefeito Frank Sobreira Barros no dia 1º de abril de 2025. O contrato era vinculado ao convênio federal nº 922142/2021 e previa obras de infraestrutura urbana que, agora, ficam suspensas por tempo indeterminado.

rescisão contratual

A justificativa oficial da rescisão cita os artigos 137 e 138 da nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021), mas não explica, na prática, o motivo do fim do contrato, tampouco apresenta soluções emergenciais para o problema que se alastra por toda Boca do Acre.

Agora, em setembro, uma nova licitação foi aberta, para a execução de serviços comuns de engenharia para pavimentação na sede do Município de Boca do Acre, em atenção ao convênio N° 922142/202, cujo o valor do contrato é de R$ R$ 4.790.918,67. Mesmo assim, não há previsão para o início das obras. Enquanto isso, os buracos se multiplicam.

Licitação aberta

Relembre: Saúde em colapso, falta de oxigênio e hospital tomado por ratos

Conforme revelado em matéria anterior, Boca do Acre vive uma verdadeira tragédia na área da saúde. Em meio a um surto de COVID-19, com quase 100 casos registrados em menos de duas semanas, o Hospital Regional Maria Geny de Lima sofre com a ausência de oxigênio, falta de testes rápidos, fezes de ratos em ambientes hospitalares e denúncias de má gestão. Os próprios servidores relatam que pacientes estão sendo transferidos para Rio Branco por falta de condições mínimas de atendimento. A denúncia ganhou ainda mais peso diante da ausência do diretor da unidade, que acumula cargos em outro município, e do transporte irregular de cilindros de oxigênio em ambulâncias comuns, prática proibida por normas de segurança.

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Uma cidade à deriva

Com a saúde em colapso e a infraestrutura em frangalhos, a população de Boca do Acre se sente abandonada. A gestão Frank Barros, que já vinha enfrentando críticas por contratações polêmicas, como a contratação emergencial de uma padaria por mais de R$ 500 mil, agora vê sua popularidade em queda livre.

Contrato da padaria

Enquanto isso, a cidade parece caminhar rumo ao caos total: buracos viram jardins de protesto, hospitais viram abrigo de pragas e as promessas de campanha se dissolvem no barro das ruas esquecidas.

NOTA

O Núcleo de Reportagem do Portal Alex Braga entrou em contato com a prefeitura de Boca do Acre para falar sobre o caso, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimento.

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