A Justiça determinou a abertura de um inquérito para apurar responsabilidades do governador do Amazonas, Wilson Lima (UNIÃO), e do ex-secretário de Saúde estadual, Marcellus Campêlo, que atualmente é secretário da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), e foi preso por suspeita de corrupção, a partir das conclusões da CPI da Covid. Ambos foram indiciados pela comissão que investigou as ações e omissões de autoridades durante a pandemia e agora terão de responder formalmente às acusações no âmbito criminal.
O Amazonas foi um dos estados mais atingidos pelo colapso do sistema de saúde no auge da pandemia, marcado pela escassez de oxigênio, superlotação hospitalar e mortes de pacientes por asfixia. Documentos e depoimentos analisados pela CPI revelaram que o governo estadual tinha conhecimento prévio do risco de colapso e recebeu alertas da empresa fornecedora White Martins meses antes da tragédia. Apesar disso, medidas eficazes não foram tomadas.
(RELATORIO FINAL DA CPI DA COVID)
Ex-secretário foi preso pela Polícia Federal
Marcellus Campêlo, então secretário de Saúde, tornou-se um dos símbolos da crise amazonense. Em 2021, ele foi preso pela Polícia Federal em uma operação que investigou fraudes na gestão da saúde durante a pandemia. O Hospital de Campanha Nilton Lins, que funcionou por apenas três meses em 2020, foi alvo de denúncias de contratos superfaturados e serviços irregulares, como lavanderia, limpeza e contratação de médicos.
Na CPI, Campêlo também foi criticado por minimizar a gravidade da falta de oxigênio em Manaus. Ele declarou que o desabastecimento teria durado apenas dois dias, 14 e 15 de janeiro de 2021, mas parlamentares confrontaram essa versão com vídeos, depoimentos de familiares de vítimas e relatórios que apontavam falta de oxigênio por até 20 dias.
Outro ponto revelado foi a omissão na compra de usinas de oxigênio. Apesar de alertas da White Martins desde julho de 2020, o governo do Amazonas não adquiriu nenhuma unidade para reforçar o abastecimento. Municípios menores, como Parintins e Careiro, chegaram a providenciar usinas com emendas parlamentares, enquanto a gestão estadual alegava dificuldades em processos de licitação.
Governador virou réu no STJ por fraude na compra de respiradores
Wilson Lima também está no centro das investigações. Ele foi tornado réu no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por fraude na compra de respiradores adquiridos de uma importadora de vinhos, em contrato marcado por suspeita de superfaturamento e direcionamento.
LEIA MAIS: Desesperado, Wilson Lima reduz IPVA para tentar se eleger senador
A gestão do governador foi apontada na CPI como negligente diante dos sinais de agravamento da pandemia. Em dezembro de 2020, quando os dados da Fundação de Vigilância em Saúde já apontavam para alta nas internações e ocupação quase total de leitos de UTI, o governo chegou a decretar medidas restritivas. No entanto, após protestos e pressão política, Lima recuou e flexibilizou as regras, decisão que teria contribuído para a explosão de casos em janeiro de 2021.
Parlamentares que participaram da comissão afirmaram que o governador e sua equipe tinham tempo e recursos para agir de forma preventiva, mas optaram por medidas tardias ou ineficazes. O resultado foi a morte de milhares de amazonenses em um dos episódios mais dramáticos da pandemia no Brasil.
Embora a CPI da COVID tenha investigado o colapso do sistema de saúde no Amazonas e as falhas na gestão federal, ela não divulgou um número oficial de mortos específico para o estado.
Com base em dados da plataforma Brasil.IO, o Amazonas registrou 14.151 mortes por COVID-19 durante a pandemia. É importante notar que este número reflete o total de óbitos confirmados e não a soma de registros específicos de cada ano.
Investigação mira responsabilidades criminais
O inquérito aberto pela Justiça vai analisar se as condutas de Wilson Lima e Marcellus Campêlo configuram crimes como fraude em licitações, corrupção, prevaricação e até responsabilidade por mortes que poderiam ter sido evitadas.
Os dois políticos amazonenses agora entram em uma nova etapa do processo judicial, em que as provas reunidas pela CPI e por outras investigações serão confrontadas com a defesa de cada um. Caso sejam condenados, poderão responder criminalmente por suas ações e omissões durante a crise sanitária que devastou o Amazonas.
NOTA
O Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga entrou em contato com o governador Wilson Lima e o secretário Marcellus Campêlo para falar sobre o caso, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas.
LEIA MAIS: Sem pagamento do Governo, rodoviários param transporte e povo cobra Wilson Lima: ‘blá, blá, blá’