Em plena gestão do governador Wilson Lima (União Brasil), o abandono estatal ganha rosto, nome e história: Marline Melo, mãe solo, sem emprego e sem moradia própria, percorre as ruas de Manaus vendendo bombons para tentar comprar um carrinho adaptado de R$ 28 mil para o filho Otávio, de 11 anos, que tem paralisia cerebral, epilepsia generalizada. Nessa jornada, a única ajuda que recebeu do Governo do Amazonas foi uma cadeira de ferro quebrada.
Além disso, ainda foi vítima de uma falsa médica que prometia milagres, e espera no Sisreg um atendimento especializado que nunca chega por parte da Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM). Marline hoje enfrenta a crua realidade de um sistema ineficaz e de um governo omisso.
Otávio foi uma das crianças atendidas por Sophia Livas de Morais Almeida, falsa médica presa em maio deste ano pela Polícia Civil do Amazonas. Ela se apresentava como pesquisadora e cardiologista fetal, prometendo cirurgias inovadoras e tratamentos milagrosos. Segundo Marline, a criminosa suspendeu medicações essenciais do menino e prometeu uma reabilitação que o faria voltar a andar. “Ela disse que o Otávio era um forte candidato para a cirurgia. Me mostrou vídeos de outras crianças. E eu acreditei, porque há 11 anos luto por isso”, contou.

O contato com Sophia durou até um dia antes da prisão dela. Desde então, tudo ruiu.
Sistema de saúde lento e desumano
Otávio está há anos na fila do Sisreg para consultas com especialistas. Marline chegou a filmar uma crise de epilepsia do filho e publicar nas redes sociais, na tentativa desesperada de conseguir atendimento. Quando finalmente foi chamada, caiu nas mãos da falsa médica.
Apesar de todo o histórico e da gravidade da condição de Otávio, o equipamento fornecido pelo Governo do Estado foi uma cadeira de rodas de ferro, inadequada para o seu quadro de tetraplegia. “Foram 3 anos de espera por uma cadeira que não serve. Ela não fecha, não entra em carro e só anda em ônibus”, afirma a mãe.

O menino também precisa urgentemente de uma cirurgia no quadril, que está deslocado devido ao peso e à necessidade constante de ser carregado no colo. O pós-operatório exige uma cama hospitalar e um quarto adaptado, nada disso foi garantido pelo poder público.
Entre bombons e boletos

A renda de Marline vem da venda de bombons doados por um projeto solidário. Ela percorre bairros como Lírio do Vale e Nova Esperança com Otávio no colo, pois a cadeira do governo não serve. “Ele está doente agora, por isso estou na casa da minha mãe. Mas aqui é inviável, moram muitas pessoas. Eu preciso de um lugar para cuidar dele”.
Além do carrinho de R$ 28 mil, ela precisa custear luz (com tarifa cheia, mesmo com laudos médicos), alimentação pastosa especial, remédios e até o canabidiol, que ainda não conseguiu acessar pelo SUS.
“Eu estou vendendo bombons para juntar dinheiro para a cadeira adaptada, que custa cerca de 28 mil reais. É um valor muito alto, quase o preço de um carro popular, e está fora da minha realidade”, conta.

“Eu recebo o benefício de prestação continuada (BPC) do Otávio, mas não é suficiente. Pago luz, comida, remédios, e o canabidiol que ele usa ainda não consegui pelo SUS. Eu já abri vários protocolos na Susam, mas até agora nada avançou”, lamenta.
Ausência de moradia e políticas públicas
Marline já fez duas inscrições em programas habitacionais do governo do Amazonas, mas nunca foi chamada. Mora em uma casa cedida, no terceiro andar, sem elevador, inviável para um menino que depende de cirurgia e ficará engessado por meses. Por isso, a operação foi adiada.
“Eu preciso de um quarto para ele, de uma cadeira de banho, de uma cama hospitalar. Preciso de ajuda. Mas até agora não consegui nada, diz.
Como ajudar
Para doações em dinheiro, materiais ou apoio à campanha por um carrinho adaptado, entre em contato com Marline Melo pelo telefone: 📞 (92) 99141-0524 ou pela vaquinha solidaria que está disponível no Instagram @marlinemello.
NOTA
O Núcleo de Reportagem Investigativa entrou em contato com a Secretaria de Estado em Saúde (Ses) e a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEPcD) para falar sobre a situação do Otávio, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas.

