A empresária Bruna Batista Ribeiro ocupa um cargo comissionado estratégico no gabinete do atual diretor-presidente do Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM), David Fernandes dos Santos, com um salário mensal que ultrapassa R$ 10 mil, de acordo com o Portal da Transparência. O cargo não é técnico, mas sim de livre nomeação, o que desperta questionamentos sobre critérios de escolha e vínculos pessoais ou políticos, segundo revela com exclusividade o Portal Alex Braga.

De acordo com dados obtidos no site da Receita Federal do Brasil, Bruna Batista também figura como sócia da empresa FG Serviços de Apoio e Monitoramento Eletrônico LTDA. O detalhe é que o outro sócio da empresa é Rodrigo de Sá (Progressistas), que comandou o Detran-AM até 2024 e deixou o cargo para assumir o mandato de vereador de Manaus, após se eleger com base em sua visibilidade à frente do órgão.
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O histórico da empresária mostra que essa não é sua primeira experiência em cargos de confiança no governo estadual: ela já havia sido nomeada anteriormente para funções na Superintendência Estadual de Habitação (Suhab), o que indica trânsito político e presença recorrente em estruturas de poder.


Salário: delegado x vereador
O envolvimento de Rodrigo de Sá na política e no serviço público não se restringe ao Detran. Mesmo ocupando uma cadeira no Legislativo Municipal, o delegado segue recebendo mensalmente mais de R$ 44 mil da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), valor referente ao seu salário de delegado. Essa situação já perdura por pelo menos oito meses, o que representa mais de R$ 350 mil pagos pelos cofres estaduais no período, mesmo após o início do mandato parlamentar.

A Constituição Federal, no artigo 38, inciso III, é clara sobre a conduta que deve ser adotada por servidores públicos que se elegem para o cargo de vereador:
- É possível acumular os vencimentos apenas se houver compatibilidade de horários entre a função pública e o mandato eletivo.
- Caso não exista essa compatibilidade, o servidor deve afastar-se do cargo original sem receber remuneração, mantendo apenas o salário referente ao mandato.

No entanto, os registros no Diário Oficial do Estado mostram que Rodrigo de Sá continua recebendo o valor integral como delegado. Isso levanta uma dúvida inevitável: em quais dias e horários o vereador estaria cumprindo sua escala de trabalho na Polícia Civil, conciliando com as sessões e atividades parlamentares? Sem uma resposta clara, o caso se aproxima de um possível descumprimento do que determina a Constituição.

Conexões políticas e empresariais
A relação empresarial entre Rodrigo de Sá e Bruna Batista adiciona um componente delicado à história. Uma sócia de sua empresa ocupar um cargo comissionado no gabinete do atual presidente do Detran, órgão que ele comandou por anos, abre margem para questionamentos sobre influência política nas nomeações, potenciais conflitos de interesse e possível manutenção de redes de poder dentro da autarquia. Esse tipo de cenário é apontado por especialistas como um dos mecanismos que favorecem a perpetuação de grupos políticos no controle de órgãos estratégicos do Estado.

O Detran-AM, responsável por arrecadar milhões todos os meses em taxas e serviços, historicamente é considerado um dos órgãos mais cobiçados na estrutura do governo estadual. Ter aliados próximos e sócios empresariais em cargos estratégicos pode significar influência sobre decisões administrativas e contratações, especialmente em áreas ligadas a serviços terceirizados.
O silêncio das autoridades
A reportagem entrou em contato com a assessoria do Detran-AM e com o gabinete do vereador Rodrigo de Sá para esclarecer se existe compatibilidade de horários que justifique o acúmulo salarial, e se a nomeação de Bruna Batista foi influenciada por sua relação empresarial com o parlamentar.
Até o fechamento desta matéria, nenhuma das partes respondeu aos questionamentos.


Enquanto não há explicações, as perguntas continuam ecoando:
- Quem indicou Bruna Batista para um cargo estratégico no gabinete do atual presidente do Detran?
- Qual é, de fato, a rotina de trabalho de Rodrigo de Sá na Polícia Civil desde que assumiu o mandato de vereador?
- E por que os cofres públicos continuam pagando integralmente um salário que, por lei, poderia estar suspenso?