Sábado, 20 Setembro

Uma pesquisa divulgada esta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Nacional (IPEN) em conjunto com o consórcio de portais G6, escancarou uma realidade desconfortável para boa parte da elite política do Amazonas. O eleitor não está lembrando de ninguém e, pior ainda, não está lembrando nem dos nomes que há pouco tempo pareciam certeiros nas urnas.

Com 1.500 entrevistados em 12 municípios, a sondagem espontânea para deputado federal mostrou que 86% dos eleitores ainda não sabem em quem votar. Mas o que mais chama atenção não é apenas o índice altíssimo de indecisão, já esperado a essa altura do calendário, e sim quem não apareceu entre os nomes mais citados.

A ausência de algumas figuras conhecidas, inclusive de políticos que já ocuparam cargos de enorme relevância, expõe o risco real de estarem completamente desconectados do sentimento popular atual.

É o caso de Alfredo Nascimento, ex-prefeito de Manaus, ex-senador, ex-deputado federal e ex-ministro dos Transportes por três mandatos. Presidente do PL no Amazonas por anos, Alfredo hoje se movimenta nos bastidores como uma espécie de fiador da candidatura de Maria do Carmo ao governo do estado. Mas nada disso parece estar ecoando entre os eleitores. O nome de Alfredo sequer foi citado espontaneamente por um único entrevistado. Para um político com trajetória de ministro da República e décadas de mandatos majoritários, o silêncio é ensurdecedor.

Outro caso emblemático é o do coronel Alfredo Menezes, ex-superintendente da Suframa e um dos nomes mais próximos de Jair Bolsonaro no Amazonas. Sua eleição para o Senado em 2022 foi uma das mais disputadas do estado. Menezes obteve 737.875 votos, cerca de 39% dos válidos, e perdeu por uma diferença de menos de 200 mil votos. Mesmo com essa votação expressiva e com forte apoio do bolsonarismo local, sua conexão com o eleitor parece ter esfriado. Nenhuma menção espontânea, nem mesmo uma lembrança isolada.

A ausência de Artur Virgílio Neto também chama atenção. O ex-senador, ex-deputado federal, ex-ministro do governo FHC e três vezes prefeito de Manaus é um dos políticos mais experientes e reconhecidos do Amazonas. Sua longa trajetória política, com projeção nacional, parece não ter sido suficiente para garantir sequer uma lembrança espontânea entre os 1.500 eleitores entrevistados. A memória política, ao que indica, tem prazo de validade curto.

Por fim, outro nome que ficou de fora foi o do ex-deputado federal Zé Ricardo, que em 2018 foi o mais votado do estado com quase 200 mil votos. Um nome popular, identificado historicamente com as causas sociais, sempre presente nos debates de esquerda e com forte atuação nas periferias. Mesmo com esse histórico, Zé Ricardo também foi esquecido na pesquisa.

Entre os poucos nomes mencionados de forma espontânea pelos eleitores, apenas dez foram citados com algum percentual relevante. Liderando a lista estão Sargento Salazar, com 1,3% das menções, e Amom Mandel, com 1,2%. Em seguida aparecem Silas Câmara e Capitão Alberto Neto, ambos com 0,8%, seguidos por Adail Filho e Sidney Leite, com 0,7% cada. Roberto Cidade foi citado por 0,5% dos entrevistados, enquanto Átila Lins, Saullo Vianna e Wilson Lima registraram 0,4% cada. Todos os demais nomes mencionados individualmente não ultrapassaram a marca de 0,3%.

Diante desse cenário, a pergunta que se impõe é: o que aconteceu com esses nomes? Por que, mesmo com toda a trajetória, experiência, estrutura, apoio partidário e visibilidade institucional, tantos políticos de carreira não conseguiram sequer figurar entre os lembrados? A resposta pode estar no cansaço do eleitor, no distanciamento das bases, na ausência de presença digital efetiva ou, simplesmente, no fato de que a memória política hoje é mais curta do que nunca. Ser lembrado exige mais do que um passado de glórias.