Prometida por presidentes, defendida por ministros e usada como bandeira por políticos do Amazonas, a BR-319 continua sendo uma estrada de barro no meio da Amazônia. Mesmo com declarações públicas de apoio de nomes como Lula, Bolsonaro, Omar Aziz, Eduardo Braga e Plínio Valério, a única ligação terrestre entre Manaus e o restante do país segue abandonada em trechos críticos. A pergunta que não cala é: se todos dizem ser é a favor, por que a BR-319 não é asfaltada?
A BR-319, conhecida como Rodovia Álvaro Maia, é uma estrada federal que conecta Manaus (AM) a Porto Velho (RO), totalizando cerca de 885 quilômetros de extensão.
Atualmente, a via encontra-se em estado crítico, com trechos sem pavimentação e carente de obras estruturais. Considerada a única rota terrestre que integra a capital amazonense ao restante do território nacional, a BR-319 é vista como um eixo estratégico para o escoamento de mercadorias e para o impulso econômico da região Norte.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva promete terminar a BR-319
Em setembro de 2024, O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu fazer a construção da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho (RO), “sem causar prejuízo” e “com responsabilidade, justificando a urgência devido à seca e à crise de navegabilidade no Rio Madeira — enquanto o ministro da Fazenda recusou oposição interna.
Ainda assim, políticas ambientais emperram a licitação e licenciamento do trecho central — mesmo com essa promessa do governo

Durante visita a comunidade de Manaquiri, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a retomada das obras na BR-319 e rebateu críticas direcionadas à ministra do Meio Ambiente. “É preciso acabar com essa narrativa de que a companheira Marina é contra a construção da BR-319.
Essa rodovia foi implantada nos anos 1970, mas acabou sendo esquecida por negligência — não sei de quem. Atualmente, há trechos em operação em ambos os extremos, mas existe um segmento de aproximadamente 400 quilômetros no centro que ficou inviabilizado”, afirmou o presidente, sem apresentar prazos para as intervenções.
O trecho citado por Lula corresponde à parte central da BR-319, frequentemente chamada de “trecho do meio”, que há décadas é motivo de disputas técnicas e políticas devido às preocupações com possíveis danos ambientais em caso de pavimentação e aumento no fluxo de veículos.
A declaração foi feita ao lado dos senadores Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM), além do governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil). Lula propôs a abertura de um diálogo entre parlamentares e ministros na tentativa de construir soluções viáveis para o impasses.
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Associação diz que é fundamental para a integração da região Norte
Em entrevista à nossa equipe de reportagem o presidente da Associação de Amigos da BR-319, André Marsílio defende que a rodovia é fundamental para a integração da região Norte. Segundo ele, Amazonas e Roraima são os únicos dois estados brasileiros que ainda não estão conectados ao restante do país por vias rodoviárias — o que, na sua avaliação, representa um grande obstáculo para o desenvolvimento logístico da região.

“Pensando em uma forma de integrar todas as regiões do país, essa limitação é muito prejudicial. Atualmente, só temos como alternativas o transporte aéreo ou fluvial. E isso quando não estamos enfrentando o período de seca, que dificulta ainda mais a navegação, especialmente com balsas”, afirmou.
Para ele, a BR-319 deixou de ser apenas um projeto: “Hoje, ela é uma realidade e uma necessidade latente para o povo amazonense e para o povo de Roraima”, concluiu.
Para o presidente da Associação de Amigos da BR-319 André Marsílio, a ministra Marina Silva é uma figura central no debate sobre a BR-319, especialmente por já ter se posicionado publicamente contra a pavimentação da rodovia. No entanto, ele ressalta que Marina atrapalha muito, mas não se trata de uma responsabilidade exclusiva da ministra.
“Marina é, sim, uma peça importante nesse processo e seu posicionamento tem importância. Mas não é só ela que impede o avanço da obra. Existem outros atores por trás disso”, afirmou.
Marsílio também destacou que o processo de pavimentação está atualmente sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e que a lentidão dos trâmites precisa ser enfrentada com mais firmeza. “O DNIT precisa acelerar esse processo, e cabe aos nossos parlamentares exercer um papel mais ativo na cobrança — não apenas da Marina, mas também do DNIT e do próprio governo federal”, completou.
Marina Silva: o maior obstáculo político à pavimentação da BR-319
Apesar do discurso unânime de políticos locais e até do próprio presidente Lula em defesa da pavimentação da BR-319, a obra segue paralisada, especialmente por entraves ambientais liderados pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Reconhecida por sua postura firme em relação à preservação da Amazônia, Marina tem sido apontada como a principal voz contrária ao avanço do projeto — o que, na prática, tem atrasado decisões e emperrado o licenciamento do trecho mais crítico da rodovia.
🚨⚠️🇧🇷 Denúncia! Segundo Marina Silva, as populações de Rondônia e Amazonas querem a BR-319 para passear de carro! Olha só que absurdo! pic.twitter.com/LbKGEcV4jr
— Prof Danuzio Neto | OSINT Geopolítica Atualidades (@danuzioneto) November 28, 2023
Embora outros fatores também influenciem, como a morosidade do DNIT e a falta de pressão efetiva dos parlamentares sobre os órgãos federais, é inegável que a resistência da ministra tem pesado mais do que qualquer outro obstáculo. O chamado “trecho do meio” permanece como um símbolo do impasse entre desenvolvimento e proteção ambiental.
Enquanto não houver vontade política real para enfrentar esse dilema — inclusive dentro do próprio governo — a BR-319 continuará sendo a estrada das promessas adiadas.
