Em mais um capítulo questionável da gestão do governador Wilson Lima, o Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Produção Rural (SEPROR), homologou um contrato no valor de R$ 969.475,00 com a empresa Decares Comércio Ltda, para o fornecimento de “kits agricultor familiar”. O documento, publicado no Diário Oficial do Estado, omite um detalhe crucial: não especifica o que compõe esses kits.
A contratação foi realizada via Pregão Eletrônico nº 133/2025-CSC e prevê a aquisição dos kits com o objetivo de “fortalecer a cadeia produtiva agrícola no Estado do Amazonas”. No entanto, a medida levanta dúvidas quanto à sua efetividade e ao momento de sua aplicação: atualmente, o Amazonas enfrenta uma das piores cheias dos últimos anos, com 36 municípios em situação de emergência e outros 24 em estado de alerta devido à subida dos rios. A produção agrícola está severamente comprometida, quando não totalmente inviabilizada, em diversas regiões rurais.

O que são os “kits”?
Essa é a pergunta que permanece sem resposta. O despacho de homologação assinado pelo secretário de Produção Rural, Daniel Pinto Borges, não descreve o conteúdo dos chamados “kits agricultor familiar”. Em um contexto de calamidade, a transparência sobre o uso de recursos públicos é essencial. Sem saber o que está sendo adquirido, fica impossível avaliar se o investimento é adequado, necessário ou mesmo utilizável pelas famílias agricultoras afetadas pelas cheias.
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Fornecedora de medicamentos?
Outro ponto intrigante é o perfil da empresa contratada. A Decares Comércio Ltda, inscrita no CNPJ 01.708.499/0001-59, está sediada na Avenida do Cetur, 325 – Tarumã, em Manaus, e tem como atividade principal o comércio atacadista de medicamentos e drogas de uso humano. Ou seja, não é uma fornecedora tradicional do setor agrícola, o que acende um alerta sobre a especialização e a capacidade técnica da empresa para atender a esse tipo de demanda específica.

Desconexão com a realidade
Enquanto agricultores do interior lutam para salvar suas plantações e lidar com o isolamento causado pela subida das águas, o governo estadual anuncia uma medida que, além de pouco clara, parece completamente desconectada da realidade vivida por esses trabalhadores. Especialistas apontam que, nesse período, ações emergenciais como distribuição de cestas básicas, apoio logístico e auxílio financeiro direto seriam mais eficazes do que kits agrícolas cuja utilidade é, no mínimo, duvidosa em meio à enchente.
A falta de transparência e coerência nos gastos públicos, especialmente em tempos de crise, reforça críticas recorrentes à gestão estadual, já marcada por contratos suspeitos e prioridades contestáveis.
A SEPROR deve explicações
Até o momento, a Secretaria de Estado de Produção Rural não divulgou nenhuma nota oficial esclarecendo o conteúdo dos kits ou justificando a escolha da empresa contratada.
Procurada, a SEPROR não respondeu até o fechamento desta reportagem.

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