O Governo do Amazonas, comandado por Wilson Lima (UB), firmou um contrato milionário com um consórcio recém-criado para o fornecimento de viaturas policiais caracterizadas do tipo pick-up. O valor ultrapassa os R$ 53 milhões, conforme extrato publicado no Diário Oficial do Estado no último dia 6 de junho. Confira o documento no fim da matéria.
O contrato prevê o fornecimento de viaturas sem motorista, sem combustível e com sistema de monitoramento integrado por um prazo vigente de 12 meses, com repasses mensais de mais de R$ 4 milhões.
Mas o que levanta sérias dúvidas sobre a lisura do processo é o fato de que o Consórcio Amazonas de Viatura e Tecnologia foi constituído apenas em 19 de maio de 2025, ou seja, menos de um mês antes de ser declarado vencedor da licitação milionária.
De acordo com a Receita Federal, o consórcio é composto pelas empresas AMZ Comércio e Serviços de Máquinas LTDA e KAELE LTDA, tendo como administrador o empresário José Neilo de Lima Silva.
Endereços cruzados e histórico suspeito
A apuração feita pelo Portal Alex Braga identificou que José Neilo está vinculado à diversas empresas, sendo uma delas a Seconda Serviços Construção LTDA. Ao consultar os dados desta, na Receita Federal, nossa equipe de reportagem identificou que ela está registrada no mesmo endereço da TECWAY Serviços e Locação de Equipamentos LTDA, empresa que anteriormente mantinha contrato com o governo estadual para aluguel de viaturas.
A coincidência de endereços entre empresas teoricamente concorrentes acende um alerta: essas empresas seriam, na prática, parte de um mesmo grupo econômico operando com diferentes CNPJs para vencer licitações públicas? Tal ato se configura como operação de cartel.
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Denúncia de calote público
Em novembro de 2024, o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) instaurou um Inquérito Civil para apurar a falta de pagamento por parte do Governo à empresa Tecway, então contratada para aluguel e manutenção de viaturas. Segundo o MP, a ausência de repasses estaria comprometendo diretamente o patrulhamento ostensivo, com veículos retidos nos pátios da empresa por falta de recursos para manutenção.
O inquérito ainda está em curso, e até o momento o governo não apresentou explicações satisfatórias sobre o calote. A substituição repentina da empresa por um consórcio recém-criado e com vínculos comerciais suspeitos levanta novos questionamentos sobre a real motivação por trás da contratação.
Laços com o município de Coari
Outro ponto obscuro é a atuação de José Neilo e seus familiares no município de Coari, onde diversas empresas ligadas ao grupo venceram contratos públicos. Em 2021, a própria KAELE LTDA foi alvo de investigação e teve contratos suspensos após denúncias de superfaturamento na locação de motocicletas e fornecimento de combustíveis à prefeitura.
Na ocasião, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) encontrou fortes indícios de irregularidades e determinou a suspensão dos contratos. Os valores praticados na locação de motos estavam acima do praticado no mercado e a quantidade de combustível prevista era desproporcional à demanda do município.
Silêncio oficial
A equipe de reportagem do PAB solicitou explicações ao Governo do Amazonas sobre a contratação do consórcio e a relação entre as empresas envolvidas, incluindo o uso de endereços coincidentes e o histórico de irregularidades de empresas do mesmo grupo, mas até o fechamento desta matéria, não houve qualquer resposta por parte do Executivo estadual.
Veja os documentos:
