Em meio a crescentes denúncias de insegurança e à visível ausência de viaturas nas ruas de Itacoatiara, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), visitou o município na manhã desta quarta-feira (4) e fez um único gesto: entregou rádios comunicadores ao 2º Batalhão da Polícia Militar. O ato, considerado simbólico por muitos moradores, levanta questionamentos sobre as reais prioridades do governo estadual em relação à segurança pública no interior, resumida à rádio.
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Contrato milionário com empresa de rádio
Conforme dados do Portal da Transparência do Amazonas, em dezembro de 2024 a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) firmou contrato com a Motorola Solutions no valor de quase R$ 3 milhões para fornecimento de rádios comunicadores. A justificativa: atender unidades da PM, Bombeiros, Polícia Civil e Polícia Científica em regiões com alta demanda por ocorrências.

No entanto, esse contrato é apenas parte de uma relação comercial mais ampla. Em quatro anos, a empresa já recebeu mais de R$ 7 milhões dos cofres públicos do estado. A pergunta que fica é: qual o impacto prático desses investimentos na segurança do cidadão comum?
Frota recolhida, dívida milionária
Enquanto se investe em rádios, a frota da Polícia Militar encolhe. O Governo do Amazonas acumula uma dívida superior a R$ 10,8 milhões com a empresa A.C.B. Locadora de Veículos Ltda., responsável pelo aluguel das viaturas da PM. A dívida, referente a 11 faturas não pagas, provocou uma reação imediata: a empresa começou a recolher os veículos, conforme mostram vídeos e fotos que circulam nas redes sociais.

A decisão da empresa tem respaldo judicial um mandado de segurança expedido pelo Tribunal de Justiça do Amazonas autoriza a retirada dos veículos. O resultado? Uma PM com rádios, mas sem carros para atender ocorrências.
Outras pendências no setor de segurança

O caos não se limita à falta de viaturas. Policiais militares e civis denunciam uma série de pendências por parte do governo estadual:
- Pagamento do auxílio-uniforme em atraso;
- Datas-bases dos anos de 2021 e 2022 não quitadas;
- Falta de promoções previstas em lei;
- Concursados não convocados;
- Estrutura defasada do efetivo nas corporações.
Em meio a tantas lacunas, o gesto do governador parece insuficiente. Afinal, de que adianta investir milhões em rádios se falta o básico para os policiais exercerem suas funções?
Segurança em crise, confiança em xeque
A entrega dos equipamentos, em tom de solenidade, contrasta com a dura realidade vivida pela população e pelas forças de segurança. A dúvida que paira é inevitável: estaria o governo estadual tentando maquiar a crise com ações superficiais?

O povo de Itacoatiara espera mais do que promessas ou atos simbólicos. Quer segurança real e, para isso, comunicação por rádio, sozinha, não basta.