Valdeney Mendes da Silva, 43 anos, autônomo e provedor de sua família, vive uma dramática espera por uma cirurgia no pescoço após sofrer dois acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Morador da capital amazonense, ele aguarda há cinco meses por um procedimento considerado urgente, conforme recomendação médica. A espera se arrasta mesmo com o discurso oficial do governo do Amazonas, que, sob a gestão do governador Wilson Lima, afirma que “não há mais filas para atendimento” e que “as cirurgias estão mais ágeis”.

A realidade de Valdeney, no entanto, contrasta com as promessas feitas em rede estadual. Depois dos dois AVCs, ele perdeu parte dos movimentos das pernas, ficou sem andar por dois meses e teve uma perda de 20% da memória. “Me mandaram vir pra casa e até agora estou esperando o Sisreg, e nada. Eu quero trabalhar, mas não posso, porque não sei se estou cem por cento da saúde”, desabafa.
Leia mais: Não tinha cirurgião, nem incubadora: só um pai vendo o filho agonizar no hospital do interior
O Sisreg (Sistema de Regulação do SUS), que deveria encaminhá-lo para a cirurgia, se tornou sinônimo de angústia. “Eu estou na espera do Sisreg, porque a gente morre e não chega o dia de fazer a cirurgia. Graças a Deus eu estou melhor por fora, mas por dentro não estou. Se for esperar pelo Sisreg, a gente morre e não consegue nada.”
Valdeney relata ainda que, durante a internação, perdeu os movimentos das pernas, e que só conseguiu melhorar com a própria dedicação à fisioterapia em casa. Hoje, ele ainda sofre com limitações: “Minha mão ficou parcialmente afetada, não posso correr, tenho uma vida limitada. Eu estou esperando essa cirurgia pra ter mais melhora. Vou esperar e crer em Deus.”

A esposa de Valdeney, Graciete Soares, acompanha de perto o sofrimento do marido e teme pelo pior. “Ver a situação dele me machuca muito. Ele pagava nosso aluguel. Hoje em dia não pode mais, porque não trabalha. A gente vive com ajuda da mãe dele e da irmã dele. Ele não pode se movimentar muito, sente câimbra nas mãos e nas pernas. O médico disse que ele corre risco de ter outro AVC, pediu urgência na cirurgia, mas ninguém faz nada.”
Ela faz um apelo emocionado: “Será que estão esperando ele morrer pra sair essa cirurgia? Por fora ele parece bem, mas por dentro, só Deus sabe. Da última vez, ele infartou e foram os vizinhos que socorreram. Eu não posso deixá-lo sozinho.”
Enquanto o governo estadual segue sustentando que a fila por cirurgias no Amazonas é coisa do passado, casos como o de Valdeney mostram uma dura realidade ignorada pelas estatísticas. “O governador fala na televisão que as cirurgias saem com 15 dias, mas já se passaram cinco meses e nada”, desabafa Graciete.
A família pede socorro – não apenas por uma cirurgia, mas por dignidade e por uma chance de voltar a viver com esperança.
NOTA
O Núcleo de Reportagem Investigativo do Portal Alex Braga entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Amazonas (Seas) para falar sobre a demora na cirurgia do Valdeney, mas até a publicação desta reportagem não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

Leia mais: Quatro anos esperando uma cirurgia de catarata no Sisreg do Wilson Lima