Sábado, 24 Maio

Enquanto o governador do Amazonas, Wilson Lima, afirmava em coletiva de imprensa na manhã de segunda-feira (14) que “não há falta generalizada de medicamentos” na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (Fcecon), a realidade vivida por pacientes da unidade de saúde expõe um cenário bem diferente — um cenário de abandono, sofrimento e omissão.

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Segundo o governador, ao menos 80% dos medicamentos estariam abastecidos na Central de Medicamentos (CEMA), e eventuais ausências seriam pontuais, muitas vezes relacionadas à dificuldade de aquisição no mercado nacional. “Hoje a nossa central de medicamentos tem algo em torno de 75% a 80% de abastecimento […] Em algumas unidades, como o Hospital Delphina Aziz, temos 100% de abastecimento”, declarou Wilson Lima, tentando minimizar a gravidade da situação.

Apesar dos dados disponíveis no Portal da Transparência do governo estadual, uma análise feita pelo Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga revela que as informações sobre os gastos com a saúde na Fcecon, em 2025, se limitam a valores genéricos relacionados a serviços diversos. Não há, no entanto, qualquer detalhamento sobre os medicamentos fornecidos para o abastecimento da unidade oncológica.

Dados Portal da Transparência Fcecon

A falta de transparência levanta dúvidas sobre a veracidade dos números apresentados. E mais do que isso: ela aprofunda o abismo entre o discurso oficial e a vida real de centenas de pacientes que dependem da rede pública de saúde para continuar lutando pela vida.

Realidade nas portas da Fcecon

Enquanto as falas tranquilizadoras do governador ecoavam nos corredores do Palácio do Governo, do lado de fora da Fcecon o cenário era o oposto: desespero, revolta e dor. A equipe de reportagem do Portal Alex Braga esteve no local e conversou com diversos pacientes que aguardavam atendimento ou tentavam, sem sucesso, retirar medicamentos essenciais.

Edilson paciente da Fcecon

É o caso do Seu Edilson, 52 anos, diagnosticado com câncer no reto há menos de um ano. Sem iniciar a quimioterapia por falta de medicamentos, ele conta que só conseguiu seguir com o tratamento graças à ajuda de amigos e familiares que colaboraram para comprar os remédios fora do sistema público.

“Aqui está uma calamidade sobre remédios. Câncer não é uma doença qualquer, é uma doença séria. A gente chega na farmácia para pegar o remédio e não tem. Eu dependo para fazer essa quimioterapia. São seis pílulas por dia que tenho que tomar e eu não tenho. Não tenho trabalho e nem dinheiro. Tive que pedir ajuda para comprar esse remédio fora”, relatou.

Darcy paciente Fcecon

Outro drama é o da Dona Darcy, 46 anos, paciente oncológica desde 2017. Além do câncer, ela convive com a Lúpus, doença autoimune que exige tratamento contínuo. Mesmo assim, relata estar há dias sem os medicamentos essenciais para sua saúde.

“É revoltante. A gente luta para viver, mas o sistema parece querer empurrar a gente para a morte”, disse.

Caos vai além da Fcecon

Martha mãe de paciente do Hospital da Criança

A crise na saúde pública não se restringe à Fcecon. Em outras unidades hospitalares de Manaus, a população também denuncia a precariedade. Martha, mãe de um menino de apenas 5 anos, contou que precisou levar o filho ao Hospital da Criança da Cachoeirinha, na zona sul da capital, e se deparou com falta de atendimento e até destrato por parte da segurança da unidade.

“A gente já chega desesperada com uma criança doente e ainda é tratada com grosseria. Parece que estão fazendo um favor”, desabafou.

NOTA

O Núcleo de Reportagem do Portal Alex Braga entrou em contato com a assessoria de comunicação da Fcecon para questionar sobre a falta de alguns medicamentos e materiais denunciados por pacientes, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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