Uma denúncia foi formalizada no início desta semana na Ouvidoria da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), apontando irregularidades envolvendo a concessão de bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) na instituição. De acordo com a denúncia, o professor ex-deputado estadual Eronildo Bezerra, da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), teria sido beneficiado de maneira indevida com um número excessivo de bolsas durante a gestão das professoras Selma Bassal e Adriana Malheiros, à frente da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP) da UFAM, entre 2020 e 2024.
Segundo a denúncia, Eronildo Bezerra, que foi apoiador das chapas 57 e 04 em eleições internas para a Reitoria, e teria recebido 14 bolsas de PIBIC, número considerado irregular, pois fere as normas estabelecidas pela agência de fomento sobre a quantidade de bolsas que um único orientador pode acumular: De acordo com o site da UFAM, o número máximo de bolsas é de 3 por orientador.
A denúncia aponta que a prática resultou em um desfalque significativo para outros docentes que, por sua vez, ficaram sem bolsas para seus orientados.
A gestão da PROPESP, na época, é descrita pelos denunciantes como “uma gestão do privilégio”, favorecendo amigos e aliados políticos, em especial ligados ao PCdoB, partido com o qual Eronildo Bezerra possui estreitos vínculos. Em um documento protocolado na ouvidoria e nas pró-reitorias de Gestão de Pessoas (PROGESP) e de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP), os denunciantes solicitam a abertura de um processo administrativo interno, alegando que a situação configura um caso de favorecimento político e de aparelhamento institucional para fins eleitorais.
A denúncia ainda aponta que, na gestão de Selma Bassal e Adriana Malheiros, a transparência nos processos de distribuição de bolsas foi comprometida. Os denunciantes exigem, também, a divulgação pública da lista de contemplados com recursos da UFAM, com informações detalhadas sobre os valores destinados ao PIBIC, a relação de estudantes beneficiados, e a somatória total das bolsas de agosto de 2020 a julho de 2024.
Outro ponto destacado na denúncia é a retirada do site da PROPESP da listagem dos resultados de 2019, que, segundo os denunciantes, comprovariam as irregularidades nas concessões das bolsas. Para os denunciantes, tal atitude demonstra uma tentativa de ocultar o que consideram ser um esquema de favorecimento de aliados políticos da gestão anterior.
Contexto político e eleitoral na UFAM

A denúncia ocorre em um momento delicado para a UFAM, com a eleição para o cargo de reitor se aproximando, marcada para o dia 7 de abril.
A candidata Tanara Lauschner, ligada ao PCdoB, tem enfrentado controvérsias internas, especialmente por sua relação com Eronildo Bezerra. Lauschner, ex-pró-reitora de Pesquisa e Inovação e recentemente nomeada subsecretária de Ciência e Tecnologia para a Amazônia, é vista por muitos como uma tentativa do PCdoB de limpar a imagem de Bezerra e fortalecer seu projeto político dentro da universidade.
Enquanto Tanara se posiciona como uma nova liderança na UFAM, a presença de Eronildo nos bastidores de sua candidatura levanta suspeitas sobre o real controle da chapa e seu envolvimento em práticas que muitos consideram problemáticas. Bezerra, conhecido por seu envolvimento em escândalos administrativos no passado, é um nome polêmico na política local, o que coloca a UFAM no centro de um debate sobre a influência de interesses políticos externos nas suas futuras gestões.
O pedido de transparência e justiça
Diante das alegações, os denunciantes solicitam que a atual gestão, sob a liderança do reitor Sylvio Puga, tome providências sérias para investigar as denúncias e garantir a transparência nos processos internos da universidade. Eles exigem a abertura de uma investigação para apurar as possíveis irregularidades e punir os responsáveis, caso se comprovem as acusações.
“A UFAM precisa de uma gestão que preze pela ética e pela transparência, sem ser contaminada por interesses políticos de grupos externos. O que está em jogo não é apenas a integridade da universidade, mas também a confiança da comunidade acadêmica nos processos que definem o futuro da instituição”, afirmam os denunciantes.
Nota
Ao Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga, a assessoria de comunicação do Eron Bezerra enviou uma nota. Leia na íntegra:

Também entramos em contato com a UFAM para questionar as denuncias e saber quais medidas estão sendo tomadas pela universidade, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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