Segunda-feira, 17 Fevereiro

Ver o pai morrer de Covid, lutando dentro de uma ambulância em busca de atendimento nos hospitais públicos de Manaus, é um trauma que a biomédica e ex-miss Manacapuru Geovana Matos jamais esquecerá. Hoje, passados quase 5 anos da morte do pai dela, Geovane Rocha, 53 anos, no dia 19 de abril de 2020, ela busca num processo da Justiça que o Governo do Amazonas pague por isso.

Ainda que a família tenha perdido o bem mais precioso, que era a vida de Geovane, fazer o Estado das mortes por asfixia ser condenado pela inoperância do Governo Wilson Lima deixará um registro histórico para as futuras gerações: amazonenses morreram vítimas de Covid sem direito à assistência médica.

” É um descaso ocasionado pela má gestão, um governo de corruptos em que é inacreditável que tenha sido reeleito, sabe se lá como, após tantas mortes causadas por irresponsabilidade”.

ALTA PRECOCE, AUSÊNCIA DE TESTE E MORTE

A primeira internação de Geovane no Hospital 28 de Agosto, com pulmão comprometido e diagnóstico de H1N1 e pneumonia bacteriana era um indício tão forte do trágico futuro tanto quanto o atendimento que ele recebeu: quatro dias de tratamento e uma alta precoce.

Daquele momento em diante, foram dois dias de agonia até a morte do boleiro querido pelos amigos na cidade, sempre ativo e presente nas fotos das peladas do município ou nas reuniões em família.

“Após passar 4 dias na sala rosa, pegamos o prontuário dele e não havia teste de Covid anexado.
Logo, não foi feito teste de covid e ele foi fazer o quê na sala rosa?”, questiona Geovana, enquanto seleciona as tristes recordações do pai numa maca, à mercê do descaso evidente.

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Geovane voltou doente para Manacapuru e piorou rapidamente. Recebendo oxigênio em casa assistido por médicos da cidade e pela força de vontade da família, a contatação. “O médico disse que não tinha mais como manter em casa, precisava ir para o hospital de Manacapuru, mas não tinha suporte adequado”.

Vendo o pai agonizar, a família apelou para uma transferência de emergência para Manaus e foi avisada de que haveria uma vaga no Hospital de Campanha montado por Wilson Lima na Nilton Lins. Mas o que era uma esperança tornou-se o pesadelo final.

“Quando chegamos no hospital Nilton Lins tudo se acabou. Poque ele foi recusado na porta”. Desesperados, médico e familiares levaram Geovane para o Delphina Aziz, o mesmo que Wilson Lima compara ao Sírio Libanês.

Filha conta os dramáticos momentos finais do pai em Manaus

“O oxigênio acabou. Colocamos ele na UTI móvel de novo, sem oxigênio, e fomos para o Delphina. Chegando lá houve resistência porque alegaram não ter vaga”. Infelizmente, era tarde demais. O pai de três filhas, o marido zeloso e o avô cuidadoso perdeu a batalha contra a Covid e o Governo do Amazonas.

“É algo que merece punição e não pode ser deixado de lado. A justiça tem de entender o lado das vítimas e dos familiares que ficaram sem seus entes queridos e fazer o que a Lei manda”, diz Geovana.

PROCESSO

Vencida a dura etapa de sepultar o pai, a família está na Justiça em busca de reparação. Apesar de ter vencido em duas etapas, o Governo do Amazonas segue recorrendo para não pagar R$ 150 mil, valor que nem de longe repara um dano, de fato, irreparável.

A história de Geovane repercutiu em todo o Brasil, chegou a ser matéria especial do jornalista Roberto Cabrini, mas essa é uma repercussão que nenhuma das filhas ou a esposa gostaria de experimentar.

Agora resta a espera de mais um julgamento, e a certeza de que o Amazonas viveu momentos de terror do caos na Saúde pública que perdura até os dias de hoje, conforme a sentença que condenou o Governo do Amazonas neste caso que você vê abaixo:

Biomédica luta por justiça

GOVERNO DO AMAZONAS

Nossa equipe de reportagem procurou o Governo do Amazonas para comentar o caso, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta. Segue abaixo os questionamentos e desde já o espaço segue aberto.