Somando as duas casas legislativas do Amazonas, vereadores e deputados totalizam este ano 480 dias sem sessões plenárias. O levantamento realizado pela Portal Alex Braga se baseou em dados oficiais tanto da Câmara Municipal de Manaus (CMM) quanto da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) em suas páginas oficiais.
Os vereadores acumulam um total de 238 dias sem sessões plenárias na CMM. Já os deputados, somam um total de 242 dias sem ter a obrigação de comparecer ao Parlamento Estadual, situação bem diferente de quem cumpre jornada semanal na iniciativa privada ou pública.
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Na CMM, as sessões são realizadas às segundas, terças e quartas. Já na Aleam, as plenárias ocorrem às terças, quartas e quintas. Em tempo de discussão sobre jornadas de trabalho 6 x 1 ou 5 x 2, e até 4×3, para trabalhadores em regime de CLT, os números deixam claro que os 41 vereadores e 24 deputados estaduais não têm do que reclamar.
Com um total de 238 dias “sem bater ponto obrigatório” para os vereadores e 242 dias aos deputados da Assembleia Legislativa, os parlamentares cumprem jornada oposta a dos meros “trabalhadores mortais”, que encararam 254 dias úteis em 2024.
Salário alto, faltas e pouca satisfação a dar
Os parlamentares que cumprem uma rotina de trabalho presencial obrigatório de apenas três dias na semana, recebem salários de mais de R$ 18 mil na CMM e mais de R$ 33 mil na Aleam. Uma soma de mais de R$ 216 mil destinados a um único vereador e mais de R$ 360 mil a um único deputado estadual por ano, só em salários.
Com uma rotina confortável, ainda há os parlamentares faltosos. Na CMM, por exemplo, os 41 vereadores somaram 306 faltas.
Já na Aleam, a situação é ainda pior: a Casa descumpre e Lei da Transparência e não disponibiliza os dados de presença dos deputados, situação que foi criticada pelo Ministério Público. que recomendou a modernização do sistema de frequência, algo ignorado pela presidência do deputado Roberto Cidade (UB), reforçando a pouca, ou nenhum satisfação dada ao contribuinte.
Leis de Relevância duvidosa
E não é porquê os parlamentares estão presentes, que necessariamente o trabalho deles apresente relevância. Basta olhar algumas proposituras que vão da criação de Leis para homenagear o ‘abacaxi’ e a ‘melancia’ em municípios do estado, de autoria, inclusive, do presidente da Casa, Roberto Cidade (União Brasil) e do deputado estadual Adjuto Afonso (União Brasil).
O deputado estadual, João Luiz (Republicanos), propôs o fim das celebrações do Halloween, com a campanha “Deus é Luz e Nele não há Trevas!”.
O projeto aprovado para comemorar o ‘Dia das Leguminosas’, de autoria do deputado Cristiano D’Ângelo (MDB). Para ele, a lei vai impulsionar o plantio das plantas que, segundo ele, contribui na preservação do meio ambiente, no enfrentamento da fome, da pobreza e na insegurança alimentar.
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Na CMM, a vereadora Professora Jacqueline propôs a inclusão do ‘Festival dos Morcegos’, no calendário oficial da cidade. Com o objetivo de “mobilizar financeiramente a importância desse animal silvestre no município”, disse ela após fazer a proposta.
O vereador William Alemão (Cidadania), propôs o ‘Dia Municipal do Reggae’, e justificou que a criação da data deve homenagear o precursor do gênero musical, Bob Marley.
NAS RUAS DE MANAUS, O POVO RECLAMA
Enquanto os parlamentares aproveitam os benefícios dos três dias de trabalho, o cidadão comum luta para diminuir a carga de trabalho que hoje é de 6 x 1.
Nas ruas de Manaus a população reclama da “moleza” dos parlamentares. Nossa equipe de reportagem ouviu o que o manauara tem a dizer de toda essa folga.
A discussão sobre o fim da escala de seis dias de trabalho por um dia de folga, a chamada escala 6×1, proposta pelo Movimento Vida Além do Trabalho, se transformou em fenômeno nas redes sociais. A conclusão é do levantamento Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, que analisou cerca de 30 mil publicações sobre o tema nas cinco principais redes: X, Facebook, Instagram, Linkedin e Tique Tok.
O estudo aponta crescimento de 2.120% no número de postagens sobre o tema nas cinco plataformas, saindo de 539 no dia 7 para 11.969 no dia 12. No mesmo período, o volume de interações – curtidas, comentários e compartilhamentos de posts – cresceu 5.513%, passando de 267.124 para 14.995.806 interações.
A proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), na Câmara dos Deputados, estabelece a jornada de trabalho de, no máximo, 36 horas semanais e quatro dias de trabalho por semana no Brasil, acabando com a escalada de 6 por 1.
Do total de conteúdos, 67% foram favoráveis à PEC da extinção da escala 6×1, 26% neutros e apenas 7% contrários. Os dados foram coletados de 7 de novembro a 12 de novembro. Ao todo, 40% de todas as interações se concentraram em 12 de novembro, dia de pico no tema no ambiente digital.
“O tema se transformou em fenômeno nas redes. Além de mostrar a eficiência da narrativa dos promotores da PEC, o fenômeno demonstra ainda o interesse dos brasileiros, independentemente de sua posição político partidária, em se manifestar sobre o tema nas redes sociais. O assunto uniu fortemente a sociedade, sejam pessoas de direita, de centro ou de esquerda”, avaliou Marcelo Tokarski, CEO da Nexus, em nota.