A fila da amargura, do sofrimento e da humilhação não tem fim na portal da Central de Medicamentos do Amazonas (CEMA), na Praça 14, Zona Sul de Manaus. Após uma série de denúncias que chegaram ao Portal Alex Braga, nossa equipe de reportagem ouviu da boca das próprias pessoas que todos os dias recebem um sonoro “não” da gestão Wilson Lima, quando recorrem ao serviço público em busca de fraldas.
A dona de casa Irene Freitas é uma dessas pessoas que jamais serão filmadas e postadas nas redes sociais do Governo do Amazonas ou no Instagram de Wilson Lima. “O meu filho tem 22 anos, todo esse tempo eu pego fralda pra ele. Antes era lá no Aleixo, depois que mudou pra cá, de quatro anos pra cá, eu nunca mais consegui pegar a fralda!”, afirma.
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Wilson gastou muito, mas cadê as com fraldas?
O Núcleo Investigativo do Portal do Alex Braga mostrou que a Central de Medicamentos do Amazonas pagou, só para a empresa Norte Green, o valor global de R$ 19.838.477,06 (dezenove milhões, oitocentos e trinta e oito mil, quatrocentos e setenta e sete reais e seis centavos), entre notas de empenho de fraldas descartáveis no ano de 2023 até este ano.
“Eles não dão nenhum contato pra ligar pra eles eles, não dão um telefone, não tem telefone, aí a gente chega aqui só pra pegar um não na cara! Aí ele disse que não tem previsão, a gente não tem como comprar né porque está caro e a gente não pode nem ficar sem comer pra poder comprar, era pra ter aqui”, desabafa Irene.
VIAGEM PERDIDA
O aposentado Paulo Sérgio é outro manauara que vai e volta para casa sem a fralda que Wilson pagou e não entregou,
“Já tem dois meses que eu venho duas vezes por semana aqui! Só pra dar viagem perdida! Eles não dão nenhum telefone, a gente fica sem informação, me sinto lesado, desprezado e humilhado pelo governo que não vê a necessidade do povo carente, pra onde foi parar o dinheiro da saúde ? é complicado!”.
Cema paga milhões em fraldas
Em mais um levantamento realizado pela equipe de reportagem do Portal Alex Braga, a CEMA repassou quase R$ 20 milhões para a empresa Norte Green Comercio De Produtos Farmacêuticos E Hospitalar Ltda – CNPJ: 24.218.223/0001-98.
Segundo informações de denúncia anônima, um repasse de R$ 7 milhões foram somente de verba Federal, e que a quantidade de pedidos de fraldas seriam necessárias 50 (cinquenta) carretas para realizar a entrega desse material, ainda a denúncia afirma que levaria no mínimo 60 dias, ou seja, dois meses, para o recebimento dos produtos. Ainda, a fonte afirma que o pagamento foi realizado em cinco dias junto da baixa do recebimento das fraldas.
Confira as notas de empenhos pagas
CEMA VAI COMPRAR MAIS DE 800 MIL FRALDAS
A Central de Medicamentos do Amazonas (Cema), abriu novo edital para aquisição de 811 mil fraldas descartáveis, segundo consta no Portal da Transparência.
O Pregão Eletrônico n° 395/24, foi publicado na quarta-feira (04), no edital a Cema está solicitando 811.000,00 (oitocentos e onze mil pacotes de fraldas descartáveis). Vale ressaltar que a Central de Medicamentos já pagou R$ 19 milhões em fraldas, entre 2023-2024, enquanto mães relatam que não conseguem ter acesso ao produto na Central de Medicamentos.
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Na véspera de feriado, a Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM) em parceria com a Central de Medicamentos abriram e publicaram o edital solicitando 811 mil pacotes de fraldas descartáveis.
No Termo de Referência é avisado que o objeto será realizado por aquisição, pelo menor preço global, de fralda Descartável, por formação de Ata de Registro de Preços, para atender a Cema e as unidades gestoras.
O período de lances ocorrerá até o dia 20 de setembro, dia em que a Cema deve anunciar a empresa ganhadora da licitação de fraldas e o valor que será pago pelo Estado.
DEFENSORIA CONFIRMA: NÃO TEM FRALDA NA CEMA
Desde maio o Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa) da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) investiga a falta de fraldas na CEMA.
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De acordo com o defensor público e coordenador do Nudesa, Arlindo Gonçalves, o procedimento propõe apurar a ineficácia do programa Melhor em Casa, disponibilizado pelo Estado do Amazonas. Entre os insumos que estão sem abastecimentos, consta a falta de itens de saúde como fraldas, soro, sondas e água destilada.
O procedimento também avalia a atuação do Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB), que objetiva o acesso da população a medicamentos gratuitos ou com valores acessíveis para o tratamento de doenças, em razão do fornecimento inadequado de fraldas para pessoas com deficiência (PcD).
Diante disso, as crianças com deficiência dos municípios de Manaus e Itacoatiara não conseguem receber as fraldas pelo Município, Estado e governo federal. O defensor Arlindo Gonçalves também relatou que a informação repassada pela Central de Medicamentos do Amazonas (CEMA), referente às fraldas disponibilizadas, é de que haveria subsídio do governo federal de 90%, enquanto os responsáveis pagariam 10% do valor, uma média de R$ 40.