Quinta-feira, 24 Abril

Da série ‘Obras Inacabadas’, o governador Wilson Lima (UB) traz mais um episódio de descaso com o dinheiro público e o bem-estar da população amazonense. Desta vez, uma obra de mais de R$ 103 milhões, pagos para a empresa Construtora Etam Ltda – investigada pela Polícia Federal (PF) por possível esquema de corrupção envolvendo obras no Estado do Acre – ficou entregue aos tapumes e ao abandono durante os 5 anos em que deveria ter sido construída.

O contrato em questão tem por objeto “Obra complementar do Igarapé do Quarenta, trecho entre as avenidas Silves e Maués” e foi firmado sob vigência do dia 08 de novembro de 2019 até o dia 31 de dezembro de 2024 sob o montante de R$ 103.479.702,20 (Cento e três milhões, quatrocentos e setenta e nove mil, setecentos e dois reais e vinte centavos), conforme a placa da obra e dados do Mapa Vivo de Obras do Governo do Estado.

Placa da Obra

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Informações e Dados da Obra/Fonte: Mapa Vivo de Obras do Governo

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Nossa equipe investigativa esteve no local para verificar as condições da obra e notou que, durante os 5 anos de vigência do contrato, foram feitos apenas o aterramento de parte do trecho e a construção de um muro de contenção. É o que mostram as imagens abaixo.

Imagens da Obra não concluída

O núcleo de investigação do Portal Alex Braga buscou pelos pagamentos feitos do Governo para a empresa e identificou que, ao todo, já foram pagos R$ 96.165.402,25 (Noventa e seis milhões, cento e sessenta e cinco mil, quatrocentos e dois reais e vinte e cinco centavos) dos R$ 103 milhões previstos, ou seja, 93,35% do valor total já foi pago.

Pagamentos do Governo para a Construtora Etam Ltda/Fonte: Mapa Vivo de Obras do Governo

Porém, conforme indicam os dados constantes no Mapa Vivo de Obras do Estado, a construção deveria ter sido entregue há cerca de dois meses, no dia 30 de junho deste ano, respectivamente.

Vigência e Aditamento de prazo do contrato/ Fonte: Mapa Vivo de Obras do Governo

Ainda no Mapa Vivo de Obras, é possível notar que houve um aditamento de prazo na vigência do contrato no total de 1461 dias a mais.

Legenda do período de atividade da Obra/Fonte: Mapa Vivo de Obras do Governo

Porém, o que chamou a atenção da nossa equipe foi o fato de constarem apenas 14 dias de paralisação da obra, o que, segundo Bruno Silva** não é verdade. O homem, que mora perto das obras, afirmou que desde a demolição das casas do local para o início das obras, pouco se viu máquinas e pessoal trabalhando.

Já tem é tempo que essas obras estão paradas. Eles mandam máquinas de vez em quando, mas ninguém opera elas. Depois que derrubaram as casas, a coisa mais rara era ver alguém trabalhando aí. Pra [sic] piorar, ainda ficou perigoso pra [sic] quem anda por aí. O terreno ficou abandonado. A gente corre risco de assalto e quem é mulher corre risco de ser levada pra lá e sofrer sabe Deus o quê.

**O nome original do personagem foi modificado para preservar sua identidade.

Após buscas pela publicação do contrato, no diário oficial, e do contrato em si, no portal do Governo, nossa equipe identificou a ausência das informações nos canais de transparência do Executivo.

O Mapa de Obras mostra que a mesma está em ‘Andamento’.

Status da Obra/Fonte: Mapa Vivo de Obras do Governo

Escândalos envolvendo a Construtora Etam

Muito conhecida por firmar contratos com todas as gestões possíveis do Governo do Amazonas há mais de 25 anos, a Construtora Etam acumula polêmicas envolvendo suspeita de superfaturamento, possível favorecimento e suposto enriquecimento ilícito em acordos com o Executivo estadual.

A empresa é comandada pelo patriarca da família Cameli, Eladio Messias Cameli, 70, que vem passando os negócios e as suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção para os filhos Eladio Messias Cameli Junior e Gledson Cameli.

Além das denúncias e investigações contra a empresa da família, no Amazonas, também há o fato de ‘Os Cameli’ serem suspeitos de integrar um cartel de empreiteiras investigado na Operação Ptolomeu – da Polícia Federal – por suposto esquema de corrupção em obras do governo do Estado do Acre, comandando por Gladson Cameli, outro filho de Eladio Messias Cameli, dono da construtora.

Gladson e Eladio Cameli em passeio de barco no dia dos pais

Na operação, a empresa foi alvo de busca e apreensão e está na mira da Polícia Federal desde então.

Quanto ao governador Wilson Lima, o que resta é explicar o porquê de buscar empresas, parceiros e amigos que devem à polícia e à justiça amazonense e federal. Comprar respiradores em loja de vinho não foi o suficiente? Ou todos os setores do Governo são férteis para possíveis esquemas de corrupção?