Denunciado pelo crime de genocídio contra o povo Yanomami, o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), quer dar à mulher, Simone Denarium, o cargo vitalício de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RR).
A esposa do governador é uma das cinco pessoas que se inscreveram para concorrer à eleição conduzida pela Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), que tem 24 deputados estaduais, quase todos obedientes aos comandos do chefe do Executivo Estadual.
O cargo de conselheiro pode ser disputado por qualquer cidadão que preencha os requisitos estabelecidos pela Constituição Estadual, com destaque para conduta ilibada e experiência de, pelo menos, 10 anos, em gestão pública.
O currículo de Simone, contudo, passa longe disso. Contadora por formação, ela é conhecida em Roraima por administrar o dinheiro do marido, a figura mais proeminente da agiotagem no Estado.
A experiência em gestão também veio pelas mãos do marido, depois que virou governador. Simone foi secretária do Trabalho e Bem-Estar Social por um mês, em dezembro de 2018, sendo substituída pela irmã, Tânia Soares.
Entre 2021 e 2022, assumiu a Secretaria Extraordinária de Promoção, Desenvolvimento e Inclusão Social do Governo. No início deste ano, foi agraciada com uma pasta criada pelo marido exclusivamente para lhe acomodar, a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social.
É essa curta experiência na condução da política de assistência social do governo que Simone coloca no currículo que será apreciado essa semana por uma comissão especial formada pela Assembleia Legislativa para fazer um pente fino no currículo e sabatinar os candidatos.
Chama a atenção o trabalho de Simone nessa área, ou melhor, a falta dele. A maior crise humanitária registrada na história recente do país aconteceu em Roraima. A morte de crianças, jovens, adultos e idosos Yanomami por desnutrição acontece sob o olhar inerte da primeira-dama, que tem sob sua responsabilidade, seja através da secretaria que comanda, ou da pasta conduzida pela irmã, o dever de assistir às populações vulneráveis, como os indígenas, com a entrega de cestas básicas, inclusive.
Não faltou alimentos para fornecer aos yanomami. Vídeos disponíveis nas redes sociais do casal mostram a entrega dançante de milhares de cestas básicas durante a campanha eleitoral – nenhuma nas aldeias yanomami.
Além da desnutrição, as mortes dos yanomami foram causadas pela desassistência na área da saúde, outra área sob influência direta da primeira-dama, que dita as ordens para a atual secretária de Saúde, Cecília Lorenzon , e específica com quem ficarão os contratos.
As digitais de Simone Denarium, assim como as do marido, também estão na crise humanitária dos yanomami que chocou o mundo, por dupla omissão na assistência social e na saúde.
Com o avanço das investigações sobre o crime de genocídio na Procuradoria Geral da República e a íntima ligação com o garimpo ilegal de ouro através da irmã, investigada pelo crime, Denarium vislumbra se desvencilhar de eventuais condenações no Tribunal de Contas do Estado, nomeando a mulher para compor um colegiado que tem como atribuição fiscalizar as contas do governador.