A Fundação Amazonprev aplicou R$ 50 milhões em Letras Financeiras do Banco Master em 6 de junho de 2024, aproximadamente um ano antes de a instituição financeira ser levada à liquidação extrajudicial pelo Banco Central.

O investimento, que tinha vencimento previsto apenas para 2034, tornou-se agora um dos episódios mais sensíveis da previdência estadual, e por um motivo central: não existe ata que comprove a aprovação da operação, como exigem os protocolos internos da fundação.
A ausência do documento transforma o caso em um potencial escândalo administrativo. A aplicação milionária pode ter sido realizada sem deliberação formal do Conselho, justamente o órgão responsável por autorizar operações que envolvem o patrimônio previdenciário de milhares de servidores públicos.
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Operação sem registro e sem transparência
O próprio relatório da Amazonprev, publicado em setembro de 2024, admite que não foram localizadas atas que registrassem a autorização para aquisição dos títulos do Banco Master, e também do C6 Bank.
À época, o caso foi encaminhado ao Comitê de Investimentos e aos conselhos internos, mas nenhuma explicação pública foi apresentada sobre como uma transação dessa magnitude ocorreu sem documentação oficial.
A situação se agravou quando, em 3 de novembro de 2025, o Sindicato dos Trabalhadores da Justiça do Amazonas informou que a aplicação foi realizada sem deliberação do Conselho de Administração e encaminhou uma notícia de fato ao Ministério Público, apontando possíveis irregularidades.
Sinais de risco já eram conhecidos
Enquanto a aplicação seguia congelada na carteira da fundação, o mercado já tratava o Banco Master com cautela. Em maio de 2025, o Comitê de Investimentos da própria Amazonprev acompanhava rumores de fragilidade da instituição, agravados após o Banco Central negar a compra do Master pelo BRB.
Mesmo assim, o investimento de longo prazo, com vencimento em 2034, permaneceu.
A crise se consumou no dia 18, quando o Banco Central decretou regime de administração especial temporária e liquidação do Master, suspendendo qualquer negociação e determinando que um liquidante assuma o processo de venda de ativos e pagamento de credores.
Para os investidores, isso significa incerteza. Para a Amazonprev, significa explicar por que apostou R$ 50 milhões em um banco já fragilizado, sem registro formal de aprovação.
NOTA
O Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga entrou em contato com a Amazonprev para solicitar um posicionamento sobre o caso. Leia a nota na íntegra:
A Fundação Fundo Previdenciário do Estado do Amazonas (Amazonprev) esclarece que a aplicação financeira realizada em fundo de investimento administrado pelo Banco Master, corresponde ao valor de R$ 50 milhões e não oferece quaisquer riscos ou interfere no pagamento de aposentados e pensionistas do estado do Amazonas.
A Fundação reforça que a Amazonprev possui receita que garante o cumprimento integral de todas as obrigações junto aos seus beneficiários.
A Amazonprev ressalta, ainda, que todas as aplicações em fundos de investimentos foram realizadas com instituições financeiras credenciadas pela Secretaria Nacional de Previdência Social e que segue acompanhando a questão junto ao Banco Central.
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