Quarta-feira, 1 Outubro

Lideranças indígenas da região do Alto Solimões, no interior do Amazonas, prometeram confronto direto com garimpeiros que atuam no território, caso não haja resposta urgente da Polícia Federal (PF) e demais órgãos de fiscalização. Em áudios compartilhados no WhatsApp neste fim de semana, representantes de comunidades afirmam estar cansados da falta de resposta por parte das autoridades.

Segundo as lideranças indígenas já existe um conflito há mais de 30 dias entre os povos Kambeba e Kokama e garimpeiros ilegais, que ameaçam líderes de comunidades próximas aos municípios de Amaturá e São Paulo de Olivença. Eles afirmam ter informado a situação à PF, à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), ao Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e ao Ministério Público do Amazonas (MPAM), pedindo apoio e providências urgentes, mas nada foi feito.

“O povo Kambeba está se manifestando porque nós estamos sentindo a dor. Quem não está sentindo a dor que nosso povo está encarando, então não fale sem conhecer primeiro nosso povo, sem conhecer nosso costume tradicional e sem conhecer nossa cultura. O povo Kambeba sempre foi guerreiro juntamente com os Kokama, e não é por isso que vão querer nos deixar de lado não”, diz um indígena em áudio compartilhado no WhatsApp.

“Lutar até o fim, porque foi assim que nós conseguimos e é assim que vamos avançar. E se essa Funai, que agora calou a boca depois que Erick saiu, não agir, nós vamos fazer nossa parte também como Kambeba e seguiremos a luta até o fim, até o último Kambeba. Não queremos que ninguém, ninguém, tome aquilo que os nossos ancestrais deixaram para nós. Seguiremos a luta até o último indígena”, incentiva ele.

LEIA MAIS: Indígenas marcham em Brasília em defesa do Marco Temporal

Tensão aumenta e coordenadora do DSEI tenta apaziguar

Por outro lado, outras lideranças indígenas têm feito apelos para evitar o agravamento da situação. Em mensagens de áudio também compartilhadas nos grupos, a coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Solimões, Maria Geralda, pede que os indígenas tenham calma e aguardem a chegada de reforço policial e de providências por parte dos órgãos competentes.

“Eu tô falando aqui pensando na vida do nosso povo, na vida da população do Alto Solimões, na vida dessas lideranças que estão aí preparadas para irem para esse embate, para esse conflito. Vou dizer uma coisa pra vocês: recuar não significa covardia. Recuar significa sabedoria. Você tem que saber quando recuar. Tem hora que é pra você ir pra frente, mas tem hora que você tem que recuar. Essa não é hora de ir para o combate, é hora de recuar. Vamos recuar dessa ação, pelo amor de Deus. Tira o teu povo de lá, tira as lideranças de lá e vamos aguardar mais um pouco, que os órgãos de proteção vão atuar, se Deus quiser vão atuar”, disse Geralda.

Outras lideranças fazem reunião urgente

Um documento compartilhado também nos grupos e assinado pelo cacique-geral do Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT), Paulino Manuelzinho Nunes, convida caciques, conselho local de saúde, agentes de saúde, professores, pastores, lideranças indígenas, alunos, Funai e organizações indígenas do Alto Solimões para participarem da Reunião Extraordinária do CGTT, realizada na Comunidade Indígena Filadélfia, no município de Benjamin Constant, nos dias 27 e 28 de setembro.

Segundo o documento, na reunião as pautas a serem discutidas seriam a Coordenação Técnica Local da Funai e a Funai Regional de Tabatinga. No entanto, o documento não cita mais detalhes sobre os pontos em debate nem menciona a tensão na área marcada por conflitos entre indígenas e garimpeiros.

Região marcada por conflitos entre indígenas e garimpeiros

A região do Alto Solimões compreende os municípios de Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Fonte Boa, Jutaí, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Tonantins. Por conta da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, a região é considerada estratégica para o tráfico de drogas e ganhou maior evidência depois da morte do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari.

À esquerda, o jornalista inglês Dom Phillips, a à direita, o indigenista brasileiro Bruno Pereira.

Na última quarta-feira (24), a PF divulgou a conclusão da Operação Boiúna, que, segundo a corporação, combateu a mineração ilegal de ouro no Rio Madeira, entre os municípios de Humaitá e Manicoré, no Amazonas, e em Rondônia. De acordo com a PF, ao todo, 277 dragas usadas no garimpo ilegal foram destruídas, e o prejuízo direto às organizações criminosas envolvidas chega a R$ 38 milhões.

A reportagem do Portal Alex Braga entrou em contato com a PF e aguarda posicionamento sobre as denúncias de garimpo ilegal e os pedidos de intervenção na região.

Exit mobile version