O casal de parlamentares, vereador Aldenor Lima (União Brasil) e a deputada estadual Joana Darc (União Brasil), estão no Rio de Janeiro para participar do 50º Congresso Mundial da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA). A estadia deles, de três dias, na “Cidade Maravilhosa”, incluindo inscrições no evento, está sendo paga com recursos públicos, autorizada tanto pela Câmara Municipal de Manaus (CMM) quanto pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam).
Embora seja uma prática considerada legal, a viagem levanta questionamentos sobre a real necessidade de impor esses gastos aos cofres públicos.
Afinal, Joana e Aldenor não podem bancar as despesas pessoais para uma causa pela qual dizem lutar? Também é questionável até que ponto os recursos públicos estão sendo usados para marketing próprio de parlamentares, sem resultados concretos para a população ou para a causa principal.
De acordo com portaria publicada na terça-feira (23) no Diário Oficial Eletrônico do Legislativo Municipal, a ida de Aldenor ao evento, que acontece entre os dias 25 e 27 de setembro, foi autorizada pelo presidente da CMM, David Reis, incluindo o pagamento de diárias e passagens aéreas.
O total de gastos do parlamentar ainda não está disponível no Portal da Transparência e deve ser apresentado somente após a conclusão das atividades.
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No entanto, a reportagem teve acesso às notas de empenho referentes a três inscrições no evento, divulgadas no Portal da Transparência do Governo do Amazonas. Uma nota de empenho, no valor de R$ 4.737,94, refere-se a duas inscrições no evento. Outra nota de empenho, em nome do mesmo credor, refere-se a mais uma inscrição, no valor de R$ 1.105,83, totalizando R$ 5.843,80 somente em inscrições.
O documento não especifica para quem são as passagens, apenas afirma que são para “servidores” da Aleam. No entanto, fontes da própria Casa Legislativa afirmam que uma das inscrições é da deputada Joana Darc. A confirmação dos gastos tanto da deputada quanto do vereador só deverá ocorrer nos próximos meses, como determina a Lei da Transparência.
Apesar de todo o marketing feito pelo casal em cima da causa animal, um levantamento realizado pelo Portal Alex Braga mostra que poucos são os projetos e ações concretas em benefício dos animais ao longo dos anos de mandato dos parlamentares. Um exemplo é a construção do primeiro Hospital Público Veterinário do Amazonas, projeto idealizado pela deputada Joana Darc com investimento inicial de R$ 3.717.932,93, mas que já passa da casa dos R$ 4 milhões.
As obras foram iniciadas em 2022 e até hoje não foram entregues. Em 2023, Joana afirmou que a obra estava 83% concluída e que o hospital seria entregue em junho daquele ano. Dois anos depois, no início deste mês, a deputada fez uma nova visita técnica ao prédio junto com o governador Wilson Lima e disse que “em breve” será anunciada a data da inauguração.
Outro episódio que ganhou repercussão, e do qual Joana esteve envolvida, foi o caso da capivara Filó (animal silvestre que era tratado como pet por um influenciador), que rendeu até um pedido de cassação contra ela por suposta quebra de decoro parlamentar.
Com mais de 20 mil assinaturas, o pedido de investigação acusava a deputada de ter invadido a sede do Ibama, cometido assédio e ameaça a servidores do órgão, além de ter espalhado fake news sobre a atuação da entidade. Tudo porque o Ibama apreendeu o animal, e Joana tomou as dores do influenciador, indo até a sede para tentar resgatar a capivara a todo custo.
Aldenor, por sua vez, teve sua atuação política criticada até por colegas parlamentares da CMM. Ele apresentou um projeto para a criação do Dia Municipal do Gato, ao que o vereador Rodrigo Guedes criticou dizendo que “Manaus não precisa do ‘Dia do Gato’, precisa é de uma ação efetiva e permanente de combate à esporotricose”, uma doença fúngica caracterizada pela presença de lesões na pele, que afeta não apenas gatos, mas também pode ser transmitida a humanos.
A reportagem entrou em contato com a deputada Joana Darc e o vereador Aldenor Lima, além da Aleam e da CMM, para questionar sobre o custeio das despesas, a justificativa da viagem e quais benefícios concretos o evento pode trazer para a população e para a causa animal. Até o fechamento da matéria não houve retorno, mas o espaço segue aberto para manifestações.