Apesar das denúncias de calotes em setores essenciais como plano de saúde para professores, atraso no pagamento de aluguel de viaturas e falta de medicamentos em hospitais, de 2022 a 2025, o Governo do Amazonas já destinou mais de R$ 28 milhões em contratos com a empresa SASI Comunicação Ágil LTDA, sediada em São Paulo. A empresa é especializada em sistemas de tecnologia da informação, aplicativos móveis customizáveis e operação de call center voltados à gestão pública. A quantia corresponde a valores já gastos e consta no Portal da Transparência.
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No entanto, essa quantia deve aumentar significativamente nos próximos meses, já que, em junho deste ano, o governo celebrou um novo contrato com a empresa. O contrato mais recente foi firmado por meio da Ata de Registro de Preços nº 008/2025 – AADESAM, conduzido sob a modalidade Pregão Eletrônico. O órgão gerenciador da contratação é a Agência Amazonense de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental (AADESAM).
O objeto do contrato é a contratação de empresa especializada em tecnologia da informação e comunicação (TIC) para disponibilização de plataformas de construção de aplicativos móveis customizáveis, com funcionamento online e offline, sistemas de roteamento, gerenciamento de ocorrências, monitoramento local e operação de contact center todos voltados à comunicação entre a administração pública e a sociedade.
Recentemente o governador Wilson Lima mandou avisar ao STF que não tem dinheiro para chamar os concursados da Segurança Pública.
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A empresa vencedora foi a SASI Comunicação Ágil LTDA, inscrita no CNPJ nº 35.379.670/0001-45, com um contrato firmado no valor de R$ 25.165.196,00, com vigência de 12 meses.
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Segundo dados públicos divulgados no Portal da Transparência, o governo do Amazonas pagou à empresa Sasi o total de R$ 1.857.187,39 em 2022, R$ 6.436.816,42 em 2023, R$ 15.626.238,21 em 2024 e R$ 4.328.720,48 em 2025 (dados consolidados até o momento), somando mais de R$ 28 milhões.
Com o novo contrato, o montante sobe para R$ 53.414.158,50, que deve ser pago à empresa até 2026.
São Paulo
O que chama atenção é o endereço da sede da empresa, localizado na Avenida Brigadeiro Faria Lima, uma das áreas mais valorizadas de São Paulo, conhecida por concentrar grandes conglomerados financeiros, multinacionais, empresas de tecnologia e estabelecimentos de alto padrão. A região é popularmente apelidada de “Wall Street brasileira” pela forte presença do setor corporativo e por seu afastamento geográfico e social da realidade amazônica.
Segundo dados da Receita Federal do Brasil, a SASI tem como proprietário o empresário Yoram Yaeli, sendo administrada por André Luiz Santos de Souza.
Expansão internacional e proximidade com o governo
Em 2023, a SASI expandiu suas operações para o exterior e lançou uma subsidiária nos Emirados Árabes Unidos, a SASI Comtech FZE, com foco na comercialização de soluções de aplicativos móveis No-Code no Oriente Médio, África e Ásia Meridional.
O lançamento internacional da empresa foi marcado por um evento simbólico intitulado “Conectando a Amazônia e o Deserto”, realizado no restaurante ‘Amazónico’, localizado no Dubai International Financial Center, um dos endereços mais luxuosos dos Emirados.
Entre os convidados do evento estavam o governador do Amazonas, Wilson Lima, e o governador de Roraima, Antônio Denarium, ambos presentes em Dubai na ocasião para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28).
A presença do chefe do Executivo amazonense em um evento corporativo de uma empresa contratada pelo próprio Estado, especialmente em um cenário internacional e durante uma agenda oficial, levanta questionamentos sobre a ética, a moralidade e os limites entre o público e o privado na administração dos recursos da população. Somente no ano em que o governador participou da conferência, a SASI recebeu mais de R$ 6 milhões dos cofres públicos do Amazonas.
Falta de transparência e questionamentos necessários
A concentração de recursos públicos em empresas com atuação fora da realidade amazônica e o relacionamento próximo entre empresários e governantes impõem a necessidade de maior fiscalização, transparência e prestação de contas por parte do governo estadual.
Nota
A equipe de reportagem solicitou nota oficial do Governo do Amazonas sobre os contratos firmados com a empresa, os critérios técnicos que justificam a escolha da SASI e os vínculos entre a gestão estadual e os representantes da empresa em eventos internacionais. A reportagem também entrou em contato com representantes da empresa e aguarda posicionamento.