Quinta-feira, 10 Julho

Enquanto o Amazonas enfrenta um alarmante aumento nos casos de feminicídios, estupros e homicídios dolosos, a deputada estadual Alessandra Campelo (Podemos), que se autointitula “defensora das mulheres” em suas redes sociais, optou por viajar ao exterior utilizando recursos públicos, num momento em que a presença ativa de autoridades estaduais se faz mais necessária do que nunca. Ao mesmo tempo, ela se cala sobre casos notórios denunciados no Estado, o maior deles o indiciamento do deputado Roberto Cidade, que responde por agressão contra a ex-mulher.

Deputada Alessandra Campelo no Fórum Global de Mulheres no Direito nos EUA

Segundo registros oficiais, Campelo esteve ausente do estado entre os dias 3 e 14 de março deste ano, em uma rota que incluiu Manaus, Bogotá, Chicago, Nova York, São Paulo e retorno a Manaus. A viagem custou aos cofres públicos o valor de R$ 20.792,20. De acordo com sua agenda, ela participou do Global Forum of Women Leaders (GFOWL) e de atividades relacionadas à 69ª sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW) da ONU, realizadas em Nova York, nos Estados Unidos.

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Demonstrativo de diárias

Apesar de sua participação em fóruns internacionais, a deputada Alessandra Campelo tem sido criticada por uma atuação seletiva em relação à pauta da defesa das mulheres no Amazonas. Um caso recente ilustra esse comportamento: o deputado Roberto Cidade (UNIÃO) foi indiciado por agredir e enforcar sua ex-mulher, Lilian Barbosa, quando estava de resguardo.

Parceiros: Roberto Cidade e Alessandra Campelo são aliados políticos

A Comissão de Defesa das Mulheres da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), da qual Campelo faz parte, não manifestou uma só palavra para defender essa vítima. O silêncio da parlamentar contrastou com sua atuação ativa nas redes quando se trata de promover sua imagem pessoal.

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O caso foi revelado pelo Portal Alex Braga e ganhou repercussão pública justamente pela omissão das autoridades que se dizem defensoras das causas femininas.

Amazonas registra alta de feminicídios e estupros

Foto: Arquivo Levante Feminista

Enquanto isso, os números da violência e feminicídios contra a mulher no Amazonas seguem em crescimento preocupante. Dados do Mapa da Segurança Pública de 2025, divulgado no dia 11 de junho pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, mostram que o estado teve o quarto maior aumento percentual de feminicídios no país, com crescimento de 30,43%, saltando de 23 para 30 ocorrências. No quesito estupro, o Amazonas ocupa a segunda posição nacional em aumento de casos, com alta de 42,91%, passando de 1.086 para 1.552 vítimas.

A capital, Manaus, também figura entre as cinco cidades com mais homicídios dolosos em 2024, registrando 666 mortes, atrás apenas de Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e Recife.

A ausência da deputada em um momento de emergência social no estado levanta questionamentos sobre suas prioridades políticas e seu verdadeiro compromisso com a defesa das mulheres amazonenses. A participação em eventos internacionais pode ser importante para o debate global, mas perde valor quando não é acompanhada por ações concretas e coerentes com a realidade enfrentada pela população local.

NOTA

O Núcleo de Reportagem Investigativa do Portal Alex Braga entrou em contato com a deputada Alessandra Campelo por e-mail com os seguintes questionamentos:

1- Deputada, por qual razão a senhora considerou prioritário participar de eventos internacionais enquanto o Amazonas enfrentava um dos piores momentos de violência contra a mulher em sua história recente?

2 – A sua viagem custou R$ 20.792,20 aos cofres públicos. Como a senhora justifica esse gasto aos contribuintes do Amazonas?

3 -Quais foram os resultados concretos e aplicáveis para o estado do Amazonas a partir da sua participação no Global Forum of Women Leaders e na 69ª sessão da CSW?

4 – A senhora se apresenta como defensora das mulheres nas redes sociais. Por que não se manifestou publicamente sobre o caso da mulher agredida pelo capitão da PM, Dilson Castro Pereira, mesmo com ampla repercussão nas redes e imagens de câmeras de vigilância?

5 – Como responde às críticas de que só se posiciona quando o caso favorece sua imagem política?

Mas até a publicação desta matéria não tivemos respostas. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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