Enquanto alunos da rede pública do Amazonas são alimentados com restos de comida, como bolacha e suco sem sabor, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc-AM) já ultrapassou R$ 76 milhões em gastos contratuais apenas nos primeiros meses de 2025. O contraste entre a realidade vivida nas escolas e os valores milionários firmados pela pasta, sob a gestão do governador Wilson Lima, foi revelado a partir de dados do Portal da Transparência e documentos publicados no Diário Oficial do Estado.
Os recursos foram destinados a contratos que chamam atenção não só pelos altos valores, mas também pelo perfil das empresas contratadas e pela forma como os acordos foram formalizados.
R$ 54,7 milhões para empresa de ar-condicionado

O maior valor até agora foi pago à empresa Andrey e Souza Serviços de Construção Civil LTDA, especializada em sistemas de ar-condicionado. A empresa foi contratada para realizar manutenção em subestações elétricas de escolas na capital e no interior do estado. Inicialmente orçado em R$ 21,9 milhões, o contrato já soma R$ 54.781.110,80 após três aditivos.
A contratação ocorreu na gestão da então secretária Kuka Chaves, com o valor sendo publicado no Diário Oficial de forma fragmentada, em notas de empenho, o que levanta suspeitas de tentativa de camuflar o montante total.
LEIA MAIS: Seduc paga R$ 54 milhões para instaladora de ar-condicionado manter subestações elétricas
Mais de R$ 21 milhões para mobílias escolares

A empresa Movenorte Comércio e Representações LTDA firmou contrato com a Seduc-AM para fornecimento de mobiliário escolar, como estantes de aço e cadeiras giratórias. O contrato, inicialmente de pouco mais de R$ 1 milhão, possui valor global superior a R$ 21 milhões, financiado por emenda do deputado estadual Felipe Souza (PRD).
Quase R$ 1 milhão para recarga de extintores
LEIA MAIS: SEDUC paga quase R$ 1 milhão por recarga de extintores para escolas
A Seduc também firmou contrato de quase R$ 1 milhão com a empresa PS Serviços de Construções Ltda, para recarga de extintores em escolas, mesmo diante de questionamentos sobre a necessidade e a validade desses equipamentos, que pode chegar a até cinco anos.

Total de gastos ultrapassa R$ 76 milhões
Somando os três contratos mais relevantes já divulgados, os gastos da Seduc-AM em 2025 são:
- Andrey e Souza Serviços (Subestações): R$ 54.781.110,80
- Movenorte (Mobílias escolares): R$ 21.000.000,00+
- PS Serviços (Extintores): R$ 1.000.000,00 (aproximadamente)
Total estimado: R$ 76.781.110,80
Alunos recebem merenda com sobras de 2024
Enquanto isso, na Escola Estadual de Tempo Integral (EETI) Danilo de Mattos Areosa, no Centro de Novo Airão, pais e alunos denunciam que a merenda escolar é composta por sobras de alimentos do ano de 2024, como bolachas e sucos sem sabor. A situação gerou indignação entre a comunidade escolar, que questiona como recursos tão altos não se refletem na qualidade da alimentação oferecida aos estudantes.
Em 2023, a Seduc firmou contrato de R$ 35.985.324,00 com a empresa Pajura Comércio Atacadista de Produtos Alimentícios Ltda., para fornecimento de merenda escolar aos CETIs e ETIs do interior. O valor foi dividido em dois lotes:
- Lote III: R$ 17.365.396,00
- Lote IV: R$ 18.619.928,00
Milhões em contratos X merendas precárias
A cifra, que pode ainda crescer com novos aditivos ou contratos em andamento, gera preocupação, principalmente diante das condições precárias enfrentadas por muitas escolas públicas no estado. Diante do cenário atual, resta à população uma pergunta que exige resposta: onde está o dinheiro destinado à alimentação escolar?