Sexta-feira, 8 Novembro

Manaus – Após a omissão do governador Wilson Lima (UB), a má gestão de Marcellus Campêlo e o silêncio de Roberto Cidade (UB), durante a pandemia de Covid-19 que assolou o Amazonas por três ondas seguidas e matou pessoas asfixiadas sem oxigênio, agora, o Portal Alex Braga revela que as usinas compradas de oxigênio pagas por mais de R$ 40 milhões continuam sem utilização e a falta de oxigênio perdura. Se o Amazonas tiver outra crise como a da pandemia, mas pessoas morrerão.

Apesar das inúmeras denúncias sobre o caso, ninguém foi condenado pelo colapso e pelas mortes por asfixia aos amazonenses.

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O silêncio, a dor, o desespero, a angústia resumem bem a perda de entes queridos de milhares de amazonenses que sequer puderam enterrar seus familiares.

Usinas superfaturadas

Durante a pandemia, o Governo do Estado, por meio da SES-AM, licitou e pagou R$ 41.206.000,00 (Quarenta e um milhões e duzentos e seis mil reais) na aquisição de 29 usinas de oxigênio, adquiridas da empresa VIEIRA E ROCHA COMERCIO ATACADISTA DE PRODUTOS QUÍMICOS LTDA (hoje X-BRASIL Ltda) sob CNPJ nº. 22.646.044/0001-26.

A grave denúncia chegou ao Núcleo de Investigação do PAB, e mostra que a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) é possivelmente o principal reduto de corrupção na gestão de Wilson Lima à frente do Executivo estadual. O escândalo nacional dos respiradores comprados em uma loja de vinho é apenas uma das tantas supostas fraudes na saúde do Estado.

Publicação do contrato no Diário Oficial do Estado do Amazonas no dia 07/04/2022

Segundo informações, as usinas superfaturadas não operam desde março de 2022.

Ao todo, foram adquiridas 29 usinas, sendo 20 direcionadas para as seguintes unidades da capital:

  • SPA Alvorada – 01 Usina;
  • SPA Coroado – 01 Usina;
  • SPA e Policlínica Dr. José de Jesus Lins – 01 Usina;
  • SPA Eliameme Rodrigues Mady – 01 Usina;
  • SPA Zona Sul – 01 Usina;
  • SPA São Raimundo – 01 Usina;
  • SPA e Policlínica Danilo Correa – 01 Usina;
  • UPA José Rodrigues – 01 Usina;
  • Maternidade Balbina Mestrinho – 01 Usina;
  • HPSC Zona Oeste – 01 Usina;
  • HPSC Zona Sul – 01 Usina;
  • HSPC Zona Leste – 01 Usina;
  • Fundação Hospitalar Adriano Jorge (FHAJ) – 01 Usina;
  • Hospital e Maternidade Chapot Prevost – 01 Usina;
  • SPA Antônio Aleixo – 01 Usina;
  • Fundação Hospitalar HEMOAM – 01 Usina;
  • SPA Joventina Dias – 01 Usina;
  • Maternidade Alvorada – 01 Usina;
  • Maternidade Dona Nazira Daou – 01 Usina;
  • Hospital Infantil Dr. Fajardo – 01 Usina.

As outras 09 usinas foram enviadas para cidades do interior, sendo elas:

  • Guajará;
  • Nhamundá;
  • Boca do Acre;
  • Benjamin Constant;
  • Itapiranga;
  • Careiro:
  • Novo Aripuanã;
  • Fonte Boa;
  • Borba.

As usinas fornecidas pela empresa Viera e Rocha foram repassadas ao governo do Estado com cerca de 100% de possível superfatura. Isso porque, a Valmig, empresa paulista que forneceu as usinas, passou dois tipos de equipamentos, sendo uma das usinas no valor de R$ 845 mil e a outra no valor de R$ 765 mil, cada.

Orçamento das usinas da empresa Valmig

Isso porque, a Valmig, empresa paulista que forneceu as usinas, passou dois tipos de equipamentos, sendo uma das usinas no valor de R$ 845 mil e a outra no valor de R$ 765 mil, cada.

Ocorre que, para a Secretaria de Saúde, a empresa vencedora da licitação passou as usinas pelos valores de R$ 1,5 milhões e R$ 1,1 milhão, respectivamente.

Contrato Vieira e Rocha e Governo do Estado / Fonte: Portal da Transparência
Contrato Vieira e Rocha e Governo do Estado / Fonte: Portal da Transparência

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Wilson Lima e Marcellus deixam usinas paradas

Nossa equipe de reportagem foi até duas unidades denunciadas e constatou que as usinas estão paradas até hoje.

O primeiro endereço o Serviço De Pronto Atendimento – SPA São Raimundo, que conta com uma unidade de usina fornecida pelo governo está totalmente abandonada. Durante a ida até o local imagens foram gravadas.

Usina do SPA São Raimundo parada

A outra unidade de saúde é o Hospital e Pronto-Socorro da Criança Zona Oeste, o local está completamente abandonado e acumulando lixos.

Usina do HPPS Zona Oeste

O que diz a população sobre o caso

A constatação do abandono das usinas pela equipe de reportagem do Portal Alex Braga, fomos as ruas da capital amazonense saber o que diz a população.

População fala sobre usinas superfaturadas de Wilson Lima

Absurdo, falta de fiscalização, indignação, falta de respeito com a população, falta de compromisso. Essas são algumas das falas que a nossa equipe ouviu da população manauara que não acredita mais no governo gerenciado por Wilson.

“Eu acho um absurdo, sabemos que na época da Covid-19 pessoas morreram dentro dos hospitais de Manaus. E hoje, a gente fica sabendo que essas usinas estão estragando, isso é absurdo por que temos pessoas dentro da Assembleia sem fiscalizar. É muito fácil falar ‘eu tõ pronto na frente da TV’ e não fazer nada”, disse a primeira entrevistada.

“É uma falta de respeito e consideração com as famílias que perderam seus entes queridos durante a Covid. É uma falta de respeito com a população ele [Wilson Lima], não ter promovido os oxigênios”, disse um rapaz.

“Ele é o pior tipo de governador, eu não gosto dele. Um governador superficial, só ganha as eleições comprando voto”, afirmou o rapaz que perdeu dois familiares durante a pandemia.

“Eu acho um absurdo o governo Wilson Lima, que infelizmente é o governador do Estado. É uma corrupção total”, afirma o terceiro entrevistado.

“O nosso governo não é um bom governo, ele não estabelece o que fala na programação. Quando chega nas eleições, eles falam uma coisa e não cumprem”, diz uma entrevistada.

A indignação ocorre em todas as falas. Todos os entrevistados autorizaram o uso de imagem e voz.

Veja vídeo

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O trio Wilson, Marcellus e Cidade

Relembrar as histórias e os episódios que marcaram o maior colapso sanitário do Amazonas é dramático diante da iminência de três ondas consecutivas de Covid-19 e a falta de responsabilidade das autoridades.

O número de mortes provocadas pela Covid-19 no Amazonas chegou a mais de 14 mil. Desse total, 7.810 mortes foram registradas somente em Manaus. 

Foto: Reprodução

Na primeira onda da pandemia de Covid-19 entre março a agosto de 2020, a cidade de Manaus ficou marcada pela forte disseminação do vírus. A rede pública de saúde saturou, resultando em um explosivo número de mortes e subsequente colapso do sistema funerário, marcado por  enterros desumanos, em valas coletivas, de parte das mais de 2.500 vítimas com a covid-19 confirmada.

Em 2021, a variante Ômicron veio na segunda onda da pandemia e em somente 21 dias o Estado colapsou e teve 1.333 mortes. Naquele ano, Manaus foi recorde em relação aos enterros. O total realizado no mês de janeiro foi de 2.964 – o maior número de sepultamentos realizados em um único mês desde o início da pandemia.

 Manaus foi a capital que mais apresentou o maior excesso de mortes, com 758% de óbitos por causas respiratórias.

A terceira onda que começou em janeiro de 2022, já foi mais controlada. Durantes as postagens de boletins em 25 de janeiro de 2022, a cidade tinha 49 mortes confirmadas por Covid-19 entre o inicio do mês.

Casos confirmados e óbitos

Foram confirmados em 2022, 738 novos casos da doença, o que totaliza 549.076 registros no Estado, segundo o boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).

Dos 549.076 casos confirmados no Amazonas, sendo 263.141 de Manaus (47,86%) e 285.935 do interior do estado (52,14%). 

O total de óbitos por Covid-19 no Amazonas chegou a 14.422 e infectados o total de 625.327 segundo informações do Portal de Monitoramento do Amazonas.

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Wilson Lima e sua omissão

Durante o governo de Wilson Lima, que começou em 2019, na pasta da Secretaria de Saúde (SES-AM), passaram-se seis secretários sendo Nayara Maksoud a atual no comando. E outros quatro investigados pela Polícia Federal durante a Operação Sangria.

Relembre Operação Sangria

A Operação Sangria teve início em 2020, para investigar fraudes em licitações e desvios de verbas públicas no governo de Wilson Lima, que deveriam ser usados no combate à Covid-19.

Em junho de 2020, a PF iniciou a investigação sobre o desvio de verbas no esquema de compra de respiradores, com dispensa de licitação, de uma importadora de vinhos.

Em uma manobra conhecida como triangulação, a empresa fornecedora de equipamentos de saúde, que já havia firmado contratos com o governo do Amazonas, vendeu respiradores para uma adega por R$ 2,480 milhões. Ainda no mesmo dia, a importadora de vinhos revendeu os equipamentos para o Estado por R$ 2,976 milhões. Após receber valores milionários em sua conta, a adega os repassou integralmente à organização de saúde.

A investigação encontrou registros comprovando a ligação entre agentes públicos e os empresários envolvidos na fraude.

Durantes as três primeiras fases secretários e o ex-vice governador da pasta da saúde foram intimados, sendo eles: Simone Papaiz,  Rodrigo Tobias, Carlos Alberto Souza de Almeida Filho e Marcellus Campelo.

Na quarta fase, as investigações ocorrem sobre as supostas irregularidades na construção do hospital de Campanha Nilton Lins, em Manaus, usado para o combate à Covid-19. Na época, o secretário de Saúde do Amazonas era Marcellus Campêlo, que foi alvo de mandado de prisão e acabou preso. Além dele, outras cinco pessoas também foram detidas.

Foto: Reprodução/ Wilson Lima e Marcellus Campêlo (ex-secretário da Saúde)

Cargo na UGPE

Na época, a pedido de Wilson Lima, Marcellus permaneceu no governo como coordenador da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), responsável pelo Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), órgão no qual ele já atuava desde o início da atual gestão, em 2019.

Em abril de 2020, Campêlo foi convocado para atuar no Comitê de Crise do Governo, no primeiro pico da pandemia de Covid-19. Mesmo assumindo a SES em junho de 2020, ele continuou à frente da UGPE. Atualmente Marcellus continua no comando da UGPE.

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Silêncio de Roberto Cidade

Em 2021, Roberto Cidade já era presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM), na época ele chegou a anunciar que iria abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia.

O requerimento para instalação foi apresentado na época pelos deputados da Casa Legislativa Wilker Barreto e Dermilson Chagas, para investigar os gastos com os recursos federais e estaduais com a pandemia da Covid-19 no Amazonas.

Na sessão de julho de 2021, Roberto Cidade disse na tribuna que: “Há muitos dias eu vinha pensando sobre a CPI que aconteceu no ano passado, uma CPI que com certeza teve frutos e um trabalho digno realizado por todos os membros. Esse ano a Assembleia Legislativa precisa continuar com esse trabalho. Então, como presidente deste Poder, quero dizer que estarei assinando a CPI da Pandemia. Tenho plena convicção que estou fazendo meu papel como parlamentar e presidente do Poder Legislativo”, afirmou Roberto Cidade.

Governador Wilson Lima e Roberto Cidade

Porém, nada aconteceu e Roberto Cidade silenciou sobre o caso até hoje. Nunca houve nenhuma CPI aberta, investigação ou fiscalização no governo Wilson Lima sobre a gestão na pandemia.

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SES silencia

O Núcleo Investigativo do PAB, enviou para a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), um e-mail questionando sobre o não funcionamento dessas usinas.

E-mail enviado para a SES

Até a publicação da matéria nossa equipe não obteve retorno.

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