Sábado, 14 Setembro

“Furaram o intestino do meu filho. O que eles fizeram com o meu bebê, só Deus sabe. Isso não é amor, isso é uma pessoa desumana”. Essa é a resposta da dona de casa A. C., que foi chamada de mentirosa pela secretária de Saúde Nayara Maksoud no fim de semana, A titular da Secretaria de Estado de Saúde do governo Wilson Lima usou as redes oficiais do Estado para desmentir a mãe que hoje luta pela vida de filho de 2 meses em Manaus, vítima do sucateado sistema de Saúde pública do Amazonas dentro da maternidade Ana Braga.

No vídeo, Nayara Maksoud diz que a denúncia é falsa, mas nossa equipe de reportagem falou com a mãe do bebê, que cedeu as fotos, o laudo e mostrou a situação delicada dentro de casa, enquanto o governo Wilson Lima chama a situação de perseguição política.

Além de voltar para casa com o bebê machucado, a mãe afirma que não recebeu um diagnóstico sobre qual o estado de saúde do filho. que hoje usa bolsa de colostomia e só dorme com analgésicos por conta das fortes dores.

“Fizeram um procedimento nele de intubação e perfuraram o intestino dele. Desde então ele passo a usar a bolsa de colostomia e até agora só o que eu vejo é essa irregularidade. Eles não me ajudam em nada. Eu tenho que pedir ajuda e as pessoas ainda dizem que é mentira. Ele está com uma inflamação e ele só tem dois meses’.

Na postagem feita por meio de rede social, Nayara Maksoud trata o caso como “informações inverídicas”, e ainda afirma que a maternidade Ana Braga é uma “referência” no Amazonas. Na postagem, porém, não cita a perfuração no intestino, não explica porquê a criança teve alta e nem porquê a mãe ainda não recebeu um laudo sobre o que ocorreu na data do nascimento.

Na própria postagem, uma outra mulher questiona o sucateamento do sistema de Saúde do Governo Wilson Lima, e lembra da tentativa de terceirizar o atendimento, ação pretendida por Wilson no Hospital 28 de Agosto e no Instituto da Mulher Dona Lindu, que o governador tenta passar para uma Organização Social ao custo de R$ 2 bilhões.

“NEM FRALDA”

De acordo com a mãe, depois que saiu da maternidade a SES não orientou mais sobre os procedimentos que ajudariam no tratamento.

“Nem fralda”, afirma a mãe. “Não passaram um remédio, nada, nada, nada. Eu que dou paracetamol por minha conta”. Na casa, moram a mãe e mais três filhos, a dona de casa diz que se vira sozinha para cuidar da inflamação no intestino do bebê, levar a criança para as consultas e manter o filho da melhor maneira possível.

“Não passaram nada, ele chora muito, com dor, e eu mesma dou medicamento por minha conta”.

MÉDICO DENUNCIA SITUAÇÃO DOS SERVIDORES

De acordo com um médico ouvido por nossa equipe de reportagem que acompanha este caso de perto, o menino teve o intestino perfurado durante procedimento médico dias após o nascimento.

Imagens recebidas por nossa equipe de investigação mostram que a situação do bebê é delicada. Ele aparece com o barriga aberta e infeccionada, fazendo uso de uma bolsa de colostomia.

Sobrecarregados, sem treinamento e em péssimas condições de trabalho, os servidores também são vítimas do caos no sistema de Saúde do Governo do Amazonas.

“Muitas mães estão sofrendo nessas unidades por esse tipo de situação. Até agora não existe explicação nem para a mãe e nem para a sociedade. O governo não investe na Saúde, estão acabando com a Saúde do Estado. É preciso cobrar o governador Wilson Lima”, diz o profissional que acompanha o caso.

A denunciante afirma que ate hoje a Maternidade Ana Braga não esclareceu as circunstâncias do acidente.

Veja o vídeo da denúncia:

SEM RESPOSTA

Nossa equipe pediu um posicionamento do Governo do Amazonas, mas não obteve resposta. O posicionamento da SES foi dado pelo vídeo da secretária chamando a mãe de mentirosa.

PARTO NO CHÃO

Esta semana, um vídeo chocante circulou nas redes redes sociais e mostrou o total descaso com uma grávida que deu à luz no chão da Maternidade Ana Braga. A maternidade Ana Braga possui orçamento de R$ 3 bilhões e peca com falta de estrutura.

A Maternidade Ana Braga, hospital de alta complexidade, usado para partos e tratamento de recém-nascidos prematuros, está sem gerenciamento algum e mostra a negligência com as grávidas que procuram a unidade.

Veja o vídeo:

Recursos bilionários e nada para as maternidades

Um levantamento feito pelo Núcleo Investigativo do PAB, mostram que a saúde pública do Amazonas, recebeu em 2023 o valor global de R$ 3.101.209.000 (três bilhões, cento e um milhões e duzentos e nove mil), sendo destinados as Fundações de unidades de saúde e nada para as maternidade, segundo informações e dados do Portal da Transparência.

Foto: Verba da saúde do Estado do Amazonas

Este ano, a SES-AM recebeu outro valor bilionário de R$ 3.482.535.000 (três bilhões, quatrocentos e oitenta e dois milhões e quinhentos e trinta e cinco mil) e mais uma vez nenhuma unidade obstétrica neonatal recebeu destinação.

No total o valor recebido pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), foi de R$ 6.583.744.000 (seis bilhões, quinhentos e oitenta a três milhões e setecentos e quarenta e quatro mil), e a saúde tem sido alvo de denúncias e classificada pelos amazonenses como um verdadeiro descaso e caos.

Foto: Verba da saúde do Estado do Amazonas

‘Tempo de espera’

No site da própria Secretaria de Saúde (SES-AM), na aba Maternidade Ana Braga, demonstram o tempo de espera dos pacientes em um quadro de atendimento.

Foto: Quadro de tempo de espera na Maternidade Ana Braga

Segundo informações da própria unidade, o 1° grupo seria de atendimento imediato e emergencial e prioridade máxima, porém não passa de um quadro colorido compondo a página da maternidade, pois na prática a situação é outra.

Direção Maternidade Ana Braga

A maternidade Ana Braga, é comandada pelo enfermeiro obstetra Edilson Albuquerque. Albuquerque representou em uma sessão especial o hospital pelos seus 20 anos de atuação sendo referência no atendimento de urgência e emergência obstétrica e neonatal na Região Norte.  A secretária de Estado de Saúde, Nayara Maksoud, foi quem representou o governador na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), em maio quando ocorreu o evento.

Foto: Reprodução/ Evandro Teixeira

Durante a sessão especial, 21 profissionais da saúde, entre médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem foram homenageados com certificados de honra ao mérito. A propositura foi do deputado Sinésio Campos (PT).

Atualmente, a maternidade Ana Braga dispõe de 256 leitos e mais de 1.600 servidores. Mesmo com essas informações, o quadro de servidores da saúde na unidade continua defasada.