Sexta-feira, 5 Julho

O Presidente da Comissão de Geodiversidade, Minas, Gás, Energia, Recursos Hídricos e Saneamento da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), deputado Sinésio Campos (PT) realizou na sexta-feira (01) Audiência Pública em Parintins (distante 369 quilômetros de Manaus) para debater o problema da qualidade da água do município.

A audiência foi convocada, após a divulgação de um relatório elaborado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP) em conjunto com a Companhia de Saneamento do Amazonas (COSAMA) que apontou que, dos 26 poços tubulares que atendem o município, 22 encontram-se contaminados, sendo impróprios para o consumo humano.

Foi detectado nos poços tubulares de Parintins, a presença de elementos como Amônia, Manganês, Ferro, além de substâncias mais perigosas como Nitrato e Alumínio, bem como a presença de Coliformes Totais e Fecais. Os componentes presentes na água trazem graves riscos à saúde da população, e possuem correlação direta com doenças como Alzheimer, diarreia, insuficiência hepática, e câncer no trato intestinal.

Em Parintins, o serviço de abastecimento e tratamento de água é gerido por uma empresa municipal, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parintins (SAAE).

“Estudos de 2005 já mostravam problemas na qualidade da água de Parintins. Em 2019 realizamos Audiência Pública no município para discutir essa questão por conta de um estudo feito pela UEA em 2018 que apontou novos problemas. Um relatório do Serviço Geológico do Brasil de 2019 apontou que poços estavam contaminados, e recomendou o fechamento. Não foi feito e a situação piorou nos últimos anos. Isso é um risco para a população, já que essa contaminação leva a problemas de saúde que vão desde a diarreia até o câncer. Queremos encontrar uma solução definitiva para esse problema”, declarou o autor da audiência.

A diretora presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-RCP), Tatyana Amorim, apresentou dados atualizados sobre a qualidade da água em Parintins.

Os técnicos do órgão coletaram amostras da água do município no mês de novembro. O dado mais preocupante mostram presença do nitrato, substância que indica contaminação da água por resíduos de esgoto. Em média, as amostras coletadas apresentaram uma quantidade de nitrato 20 vezes acima do aceitável pelo Ministério da Saúde, que é de 10mg/L, havendo casos em que o índice chegou a ser mais de 400mg/L, 40 vezes acima do aceitável.

A alta acidez da água também foi apontado como um problema tanto pelo Superintendente do Serviço Geológico do Brasil, Marcelo Batista Motta, quanto pelo professor do mestrado em Recursos Hídricos da UEA, Carlossandro Carvalho Albuquerque. Amostras coletadas pela Cosama apontam um pH de 3,5, valor próximo ao do vinagre. Um pH entre 6 a 9 é o recomendável para o consumo humano segundo o Ministério da Saúde. O pH ácido, juntamente com a alta concentração de nitrato, faz com que o alumínio presente no subsolo se desprenda da argila e contamine o aquífero. Alguns poços apresentaram quantidade de alumínio até três vezes acima do tolerável.

O Diretor-Presidente da Cosama, Armando Valle, representou o Governo do Estado. Os técnicos da Cosama alertaram sobre a necessidade do tratamento dos poços com cloro, utilizado para combater as substâncias patogênicas presentes na água.

Nas duas coletas feitas pela Comasa, uma em agosto e a outra em outubro, o índice de cloro na água foi zero, indicando que essa etapa do tratamento da água não é realizado pelo SAAE.

Os representantes da SAAE admitiram problemas de contaminação com alumínio e ferro, e confirmaram a acidez da água, porém questionaram os índices altos e nitrato apresentados. Foi revelada a informação de que o laboratório de análises do SAAE não está acreditado junto ao Inmetro, o que significa que não está apto a emitir esse tipo de laudo de qualidade da água.

O prefeito de Parintins, Bi Garcia, afirmou que em 2008, quando também foi prefeito, conseguiu junto ao Governo Federal recursos para modernização do sistema de águas, porém o projeto não teve continuidade com a troca de gestão.

Ao final da audiência, o prefeito Bi Garcia afirmou que irá conversar com o Governo do Amazonas em busca de um termo de cooperação com a Cosama para solucionar o problema da água.